domingo, 4 de agosto de 2019

“Devo falar de dois livros, que me parecem grandes entre os grandes: Diferença e repetição, Lógica do sentido. Tão grandes, sem dúvida, que é difícil falar deles, o que poucos fizeram. Durante muito tempo, creio eu, esta obra dará voltas sobre nossas cabeças, em ressonância enigmática com a obra de Klossovski, outro signo maior e excessivo. Mas um dia, talvez, o século será deleuzeano”. (Foucault, 1970)


Foucault, Michel  “Theatrum philosophicum”, Paris: Critique, novembro de 1970, nº 282, p. 885. O texto foi republicado, primeiramente, em M. Foucault, Dits et Écrits, Paris: Gallimard, 1994, tomo II, texto 80, pp. 75-99, e, depois, no cinquentenário daquela revista: Critique, agosto-setembro de 1996, nº 591-592, pp. 703-726.

" Não sei o que Foucault queria dizer, nunca lhe perguntei. Foucault tinha um humor diabólico. Talvez quisesse dizer isto: que eu era o mais ingênuo dos filósofos da nossa geração. Em todos nós se encontram temas como a multiplicidade, a diferença, a repetição. Mas eu proponho conceitos quase em bruto, ao passo que os outros trabalham mais com mediações. A superação da metafísica ou a morte da filosofia nunca me disseram respeito, e da renúncia ao Todo, ao Uno, ao sujeito, nunca fiz disso um drama. Não rompi com uma espécie de empirismo, que procede a uma exposição direta dos conceitos. Não passei pela estrutura, nem pela linguística ou a psicanálise, pela ciência ou mesmo pela história, porque penso que a filosofia tem o seu material bruto que lhe permite entrar em relações, exteriores, mais necessárias ainda, com outras disciplinas. É talvez isto que Foucault queria dizer: eu não era o melhor, mas o mais ingênuo, uma espécie de arte bruta, se se pode dizer; não o mais profundo, mas o mais inocente ( desprovido da culpabilidade de "fazer filosofia" )." (Deluze,1996)
 Deleuze, Gilles "O Mistério de Ariana", Ed. Vega, Lisboa, 1996, p. 8.

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