1. Cloridrato de Clorpromazina: Metabolismo, Neurofarmacologia e Efeitos Sistêmicos
1.1 Estrutura e Classificação
A clorpromazina é um antipsicótico típico da classe das fenotiazinas, cuja estrutura química é composta por um núcleo triaril-metano com substituintes que conferem afinidade por receptores diversos no SNC e periféricos.
1.2 Mecanismos de Ação no Sistema Nervoso Central
1.2.1 Bloqueio de Receptores Dopaminérgicos
A clorpromazina atua como antagonista de receptores dopaminérgicos D2 em vias:
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Mesolímbica e mesocortical → responsável pela atenuação dos sintomas positivos da esquizofrenia (delírios, alucinações);
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Nigroestriatal → associada aos efeitos colaterais extrapiramidais (distonia, acatisia, parkinsonismo);
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Tuberoinfundibular → inibição da dopamina leva à hiperprolactinemia.
1.2.2 Ação em Outros Sistemas de Neurotransmissores
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Receptores serotoninérgicos 5-HT2A e 5-HT2C → contribuem para efeitos ansiolíticos e sedativos;
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Receptores adrenérgicos α1 e α2 → sedação, hipotensão ortostática;
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Receptores histaminérgicos H1 → sedação, ganho de peso;
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Receptores muscarínicos M1/M2 → efeitos anticolinérgicos (boca seca, constipação, retenção urinária).
A ação ampla da clorpromazina justifica seu perfil farmacológico complexo e múltiplos efeitos adversos e terapêuticos.
1.3 Metabolismo Hepático e Cadeias Bioquímicas
1.3.1 Enzimas Envolvidas
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Metabolismo hepático de primeira passagem reduz biodisponibilidade oral (cerca de 30%).
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Isoenzimas do citocromo P450 envolvidas:
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CYP2D6 (principal)
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CYP1A2
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CYP3A4
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1.3.2 Principais Reações Metabólicas
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Hidroxilação em posições 3 e 7 do núcleo fenotiazínico;
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Desmetilação da cadeia lateral N-dimetilaminopropil;
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Formação de N-óxidos;
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Conjugação com ácido glicurônico → O-glucuronídeos;
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Menor quantidade de sulfatos etéreos e produtos oxidados.
1.3.3 Excreção
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Cerca de 37% da dose é excretada na urina, parte como droga inalterada e parte como metabólitos conjugados;
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Excreção também ocorre via biliar e fezes.
1.4 Efeitos Fisiológicos e Sistêmicos
1.4.1 Sistema Cardiovascular
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Bloqueio α1-adrenérgico → hipotensão ortostática;
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Prolongamento do intervalo QT → risco de arritmias (via bloqueio de canais de potássio hERG).
1.4.2 Sistema Endócrino
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Inibição da dopamina no eixo hipotálamo-hipófise → hiperprolactinemia, galactorreia, disfunção menstrual e sexual.
1.4.3 Sistema Gastrointestinal
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Atividade anticolinérgica → constipação, boca seca;
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Bloqueio dopaminérgico no centro do vômito (área postrema) → potente antiemético.
1.4.4 Fígado e Rins
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Metabolismo hepático intenso pode induzir elevações transitórias de enzimas hepáticas;
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Risco raro de hepatite colestática;
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Metabólitos são eliminados principalmente via renal.
1.5 Resposta Psíquica
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Redução de delírios, alucinações e agitação psicomotora;
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Sedação acentuada pode ocorrer inicialmente;
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Com uso prolongado, efeitos colaterais extrapiramidais e sintomas negativos (apatia, embotamento afetivo) podem emergir, especialmente com altas doses.
2 Considerações Finais
A clorpromazina possui um perfil farmacodinâmico amplamente distribuído, com efeitos que vão da inibição dopaminérgica central a múltiplos bloqueios periféricos. Seu metabolismo hepático é complexo, envolvendo múltiplas etapas enzimáticas e produção de metabólitos com alguma atividade residual.
3 Referências Bibliográficas
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