Ainda que os que se inspiram na leitura de Deleuze e Guattari julguem que a partir de Mil Platôs os
autores tenham se distanciado o suficiente da psicanálise
para poder prescindir dela, inventando conceitos que desembocam numa outra concepção de clínica, no limiar
entre a filosofia, a arte e a política, sustentamos que é
desde uma interlocução privilegiada com a psicanálise
que se forja o seu pensamento. Se essa interlocução
enuncia, por um lado, uma total recusa do conceito
de desejo atrelado ao Édipo e à castração, ela indica,
por outro, que a formulação de noções como as de inconsciente maquínico, corpo-sem-órgãos e máquinas
desejantes nutre-se de conceitos freudianos como os de
pulsão, inconsciente e sexualidade perverso polimorfa.
O Anti-Édipo, e o que dele decorre, não é, por princípio,
uma anti-psicanálise. Antes, pode servir-nos de instrumental para uma avaliação dos limites e possibilidades
da psicanálise no contemporâneo (Néri, 2003).
LACAN, DELEUZE E GUATTARI: ESCRITAS QUE SE FALAM
Analice de Lima Palombini
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil
Psicologia & Sociedade; V. 21 Edição Especial: 39-42, 2009
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