quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Treinamento em habilidades sociais (THS)

 

Treinamento em Habilidades Sociais: Assertividade

Este artigo tem como objetivo discutir o treinamento em habilidades sociais (THS), apresentar algumas classificações das habilidades sociais (HS), destacando a importância do mesmo para pessoas portadoras de grandes e pequenos déficits em competência social. Finalmente, destacamos o treinamento assertivo e algumas técnicas para desenvolver a assertividade.

Nas últimas décadas, um corpo consistente de teóricos vem produzindo conhecimento e pesquisa sobre as habilidades sociais (Cox e Schopler, 1995; Del Prette e Del Prette, 1996, 2003; Lemos & Meneses, 2002; Falcone, 2002; Marinho 2003; Caballo 2003; Portella, 2006; Fortuna e Portella, 2010).

O que são Habilidades Sociais:

Habilidade social (HS) é a denominação dada às diferentes classes de comportamentos sociais disponíveis no repertório de uma pessoa, que contribuem para a qualidade e a efetividade das interações que ela estabelece com as outras pessoas. Tais habilidades dizem respeito a comportamentos necessários a uma relação interpessoal bem-sucedida, conforme parâmetros típicos de um determinado contexto e cultura.

Existem várias definições para o termo habilidade social. Wolpe (1978) define habilidade social como, a expressão adequada, dirigida a outra pessoa, de qualquer emoção que não seja a resposta de ansiedade. Para Hargie, Saunders e Dicson (1981) habilidade social refere-se a um conjunto de comportamentos sociais dirigidos a um objetivo inter-relacionado, que pode ser aprendido e está sob o controle do indivíduo.

Caballo (2008), define o termo como, “um conjunto de comportamentos emitidos por um indivíduo em um contexto interpessoal que expressa sentimentos, atitudes, desejos, opiniões ou direitos desse indivíduo de modo adequado à situação, respeitando esses comportamentos nos demais, e que geralmente resolve os problemas imediatos da situação enquanto minimiza a probabilidade de futuros problemas”.

Em suma, a habilidade social refere-se a um conjunto de comportamentos socialmente aptos em um determinado contexto e\ou situação. Logo, um comportamento pode ser considerado apto em um contexto e\ou situação e não ser considerado apto em outro. (n.l. totalmente contextualista)

Segundo Del Prette e Del Prette (2001), as habilidades sociais envolvem desempenho social competente, sendo que esse pode ser prejudicado pela ansiedade, crenças errôneas e por uma avaliação equivocada do ambiente.

Comportamentos

Existem uma série de classificações para as habilidades sociais, como as de Galassi e Galassi, 1977; Furnham e Henderson, 1984; Gay e cols, 1975; Liberman e cols, 1977; Rinn e Markle, 1979; Michelson e cols, 1986, Del Prette e Del Prette, 2001, 2004, Caballo (2003), entre outros. As dimensões mais comumente aceitas incluem comportamentos como:

  • iniciar, manter e encerrar conversações;
  • fazer e responder perguntas;
  • falar em público;
  • expressar amor, agrado e afeto;
  • expressar sentimento positivo;
  • ser empático, defender próprios direitos;
  • pedir favores; recusar pedidos;
  • aceitar elogios;
  • expressar opiniões pessoais, inclusive discordantes;
  • expressar incômodo, desagrado ou enfado;
  • desculpar-se ou admitir ignorância;
  • pedir mudança de comportamento do outro e enfrentar críticas;
  • ser empático com os outros;
  • refletir sentimentos e expressar apoio;
  • solicitar e fornecer feedback positivo e negativo;
  • etc.

Vantagens do treinamento em habilidades sociais

As pessoas socialmente hábeis (ou com competência social) tendem a apresentar relações pessoais e profissionais mais produtivas, satisfatórias e duradouras, além de bem estar físico e mental e bom funcionamento psicológico (Del Prette e Del Prette, 2004). De acordo com Goleman (2001), pessoas que se destacam no ambiente corporativo possuem competência social acima da média. Para alguns pesquisadores, terapeutas socialmente aptos produzem melhores resultados terapêuticos, independentemente de sua abordagem.

Por outro lado, déficits em habilidades sociais geram dificuldades e conflitos interpessoais, pior qualidade de vida e diversos problemas psicológicos. Déficits em habilidades sociais estão presentes em patologias como: fobia social, asperger, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno invasivo, transtorno do humor (como depressão e transtorno bipolar) etc. Logo, o treinamento em habilidades sociais pode ser empregado com pacientes portadores dos problemas supracitados.

Cabe ressaltar que o treinamento em habilidades sociais não é importante apenas para pessoas portadoras de grandes déficits, este também pode ser útil para pessoas sem grandes déficits que desejam melhorar suas habilidades sociais em função de demandas pessoais ou profissionais. Quanto maior o desenvolvimento profissional e pessoal de uma pessoa mais esta precisará interagir com os outros, necessitando assim de um repertório social bem desenvolvido e de habilidades sociais, como a assertividade, empatia, comunicação verbal e não verbal etc.

Propomos a seguir uma classificação das habilidades sociais ressaltando que essas podem ser treinadas, em pessoas com grandes e pequenos déficits.

Classificação das Habilidades Sociais:

Classificamos as habilidades sociais em seis grandes grupos:

Comunicação Verbal:

Pode ser definida como uma troca de informação verbal entre duas ou mais pessoas. Segundo Chiavenato (2000), significa tornar comum uma mensagem ou informação. As pessoas se comunicam de diversas formas, mas a comunicação verbal é a mais comum e refere-se à emissão de palavras e sons que usamos para nos comunicar. A comunicação é responsável pela formação de extensas redes de troca social que mantém e alteram a cultura. A interação social se manifesta na comunicação entre as pessoas e é através desta e de outros fenômenos que as pessoas manifestam seu comportamento em relação aos outros.

Sensibilidade Perceptiva (comunicação não verbal):

Envolve a capacidade de decodificar o significado de comportamentos não verbais, por meio de gestos, posturas, expressões faciais, movimentos dos olhos, paralinguagem, dentre outros comportamentos não verbais. Refere-se também a capacidade de transmitir mensagens não verbais de acordo com os objetivos sociais. A comunicação não-verbal não apenas ajusta-se à comunicação verbal, mas também favorece a expressão de intenções e emoções (Portella, 2006). Para Rector e Trinta (1985; 1990, citado por Portella, 2006) 65% da nossa comunicação é não-verbal. A percepção da atitude de uma pessoa seria influenciada em 7% pelo conteúdo verbal, 38% pelo tom de voz e 55% pela face (Fortuna e Portella, 2010).

Capacidade Reforçadora:

Refere-se à habilidade de fornecer e de receber feedback positivo e negativo. Para Fortuna e Portella (2010), dar e receber feedback (retroalimentação) constituem habilidades essenciais para regular o próprio desempenho e os das pessoas com quem se convive, visando relações saudáveis e satisfatórias. Dar e receber feedbacks pode ser entendido como uma descrição verbal ou escrita sobre o desempenho da pessoa.

Auto Apresentação Positiva:

É uma habilidade social que consiste na capacidade de apresentar-se de forma adequada nas diferentes situações sociais, envolvendo aspectos relacionados às regras de demonstração e à aparência (Portella; Stingel e Bastos, 2005). Pode também ser definida como as maneiras pelas quais os indivíduos buscam controlar as impressões pessoais para atingir um determinado objetivo (Leary, 1995).

Capacidade Empática:

É a capacidade de compreender e sentir o que alguém pensa e sente em uma situação de demanda afetiva, comunicando-lhe adequadamente tal compreensão e sentimento (Del Prette e Del Prette, 2001). Por meio da empatia é possível compreender os sentimentos e perspectivas da outra pessoa e experimentar para com a mesma compaixão e preocupação com seu bem-estar (Falcone, 1999).

Assertividade:

É a capacidade de expor de maneira objetiva, clara e direta o que se pensa, sente ou quer sem ser passivo tampouco agressivo. Envolve auto-respeito e respeito pelos outros. É você exercer os seus direitos sem violar os direitos dos outros, se colocando, sem ser agressivo e sem ser passivo. Dizer sim quando quer dizer sim, dizer não quando quer dizer não, solicitar mudança de comportamento são exemplos de comportamentos assertivos que muitas pessoas tem dificuldade em executar. A assertividade refere-se a um continuum como explicaremos a seguir.

Todas as habilidades sociais são igualmente importantes, sendo que nenhuma é mais relevante ou se sobrepõem as outras. No entanto, escolhemos destacar nesse artigo o treinamento em assertividade, dado a dificuldade que as pessoas encontram em seu dia a dia de agirem de forma assertiva.

Treinamento em Assertividade:

A assertividade refere-se a um continuum que vai do comportamento passivo passando pelo comportamento assertivo até chegar ao comportamento agressivo.

A pessoa agressiva, geralmente, consegue aquilo que quer, ela é direta, incisiva, usa um tom de voz alto, utiliza o dedo em riste. Muitas vezes faz ameaças, possui um volume alto e a velocidade da fala é rápida. O fato é que, na maioria das vezes, o agressivo consegue sua meta, no entanto, a longo prazo, a agressividade tem um custo alto.

Para Caballo (2008), Smith (1997), Alberti e Emmons (2008), a raiva tem um efeito muito negativo na clareza e eficácia da comunicação com as outras pessoas. Elas prestam mais atenção à raiva e menos ao que está se tentando comunicar. O agressivo desrespeita os direitos individuais dos demais e faz com que o outro se sinta magoado, indefeso e humilhado e sua atitude gera ressentimento e frustração, sentimentos que mais tarde poderão retornar como vingança.

Comportamento passivo:

No comportamento passivo, a pessoa vai sempre ceder e fazer tudo que os outros querem porque o que o passivo menos se importa é com ele, então é fácil lidar com pessoas passivas. O tom de voz é baixo, volume bem baixinho, às vezes inaudível, não encara o interlocutor, olha para baixo, expressão de medo, de tristeza, quase não gesticula, esfrega as mãos demonstrando ansiedade. Estudos mostram que sintomas físicos como dor de cabeça, cansaço geral, problemas estomacais, alergias e asma estão associados ao comportamento não assertivo.

Comportamento passivo agressivo:

No comportamento passivo agressivo, a pessoa utiliza elementos de agressividade e de passividade. Faz o mínimo de contato visual possível, geralmente olha para frente, apresenta uma postura fechada, usa de indiretas em seu discurso, sendo muitas vezes irônico, sarcástico e possui senso de humor duvidoso e irritante. É manipulador e superficial em suas relações e dificilmente se coloca para não se envolver nem com as pessoas, nem com as situações e quando o faz distorce as palavras dos outros, fala por indiretas e faz com que os outros se sintam culpados fazendo o papel de  coitadinho,  injustiçado.

Comportamento assertivo:

No comportamento assertivo, nem sempre a pessoa consegue aquilo que quer. Às vezes é mais fácil conseguir o que se quer pela intimidação por comportamento agressivo do que pelo assertivo, no entanto, o assertivo defende suas posições sem ansiedade, expressa seus sentimentos de maneira honesta e tranqüila. O assertivo exerce seus direitos sem negar os dos outros, vai direto ao ponto, usa um tom de voz equilibrado, olha diretamente nos olhos, a velocidade da fala é tranqüila, a expressão da face é relaxada, porém séria.

Ninguém é 100% assertivo com todas as pessoas e em todas as situações. O certo não é ser assertivo sempre e uma pessoa competente socialmente é capaz de transitar por todo o continuum. Dependendo do objetivo da pessoa, de com quem ela está lidando vai adotar um comportamento ou outro.

O comportamento assertivo é específico da pessoa e da situação, não é universal. Numa situação onde a pessoa está sendo assaltada, por exemplo, se a pessoa agir assertivamente ela provavelmente irá argumentar com o ladrão porque ele não deve levar a sua carteira. Nessa situação, ser assertivo não é sinônimo de competência social, muito pelo contrário, ser assertivo nesse momento é burrice, o comportamento adaptativo socialmente falando, nesse caso é ser passivo e entregar a carteira sem argumentações.

Existem situações onde o adaptativo é ser passivo e outras onde o adaptativo é ser agressivo e isso dependerá da situação, do contexto e do seu objetivo numa determinada situação. E qual o comportamento mais adequado em cada situação? Isso vai depender 1º da relação interpessoal que estamos vivendo e 2º das nossas crenças e objetivos no que se refere à situação. Ser assertivo ou não, é um sinal de inteligência e de competência social, mas, às vezes, ser assertivo não é a coisa mais correta a se fazer.

A importância do treinamento das habilidades sociais:

Comportar-se assertivamente nem sempre é fácil e muitas vezes precisa de treinamento das habilidades sociais, principalmente se estivermos envolvidos emocionalmente. É relativamente fácil agir assertivamente com pessoas que não conhecemos e que provavelmente não iremos mais travar relações, como são as relações de consumo. Mas, se a pessoa em questão é do nosso círculo de relação e mais ainda quando é íntima, fica mais difícil comportar-se assertivamente. Os grandes vilões da assertividade são o medo e a culpa. Quando lidamos com esses estados emocionais dificilmente conseguimos desempenhar comportamentos assertivos. Geralmente temos dificuldade em dizer não, recusar pedidos nas relações íntimas porque na maioria das vezes, estados emocionais como o medo ou a culpa estão envolvidos.

O comportamento assertivo se subdivide em categorias e envolve:
  • Fazer pedidos- Inclui pedir favores e pedir ajuda. Os pedidos devem ser claros, diretos, objetivos e não precisam de justificativas ou pretextos.
  • Pedir mudança de comportamento- Deve incluir a descrição do comportamento que queremos suprimir, e a especificação da mudança desejada.
  • Recusar pedidos- Não devemos justificar ou dar pretextos para a negativa e precisamos ser persistentes na resposta.
  • Dizer não- Dizer “não” quando desejar e não se sentir culpado por fazê-lo com firmeza e usando a persistência.
  • Expressar amor, agrado e afeto- Expressar amor, agrado e afeto de maneira adequada fortalece e aprofunda as relações.
  • Expressar incômodo, desagrado e desgosto de modo justificado- Expressar e especificar o incômodo para o outro e se possível assinalar consequências positivas para que motive a mudança.
  • Fazer críticas- A crítica deve ser feita ao comportamento e não à pessoa, devemos falar do comportamento que não gostamos e não do que pensamos da pessoa que executa aquele comportamento.
  • Receber críticas- O comportamento desejável seria deixar a crítica seguir até o fim para que expressemos o que desejamos, quer seja para nos justificarmos, quer seja para pedirmos mais informações.
Para cada categoria acima existem técnicas comportamentais para o treinamento de habilidades sociais. Resumimos a seguir algumas:
  1. Disco Rachado ou Disco Quebrado: Consiste na repetição contínua do seu ponto de vista com um tom de voz moderado, calmamente, sem responder à argumentação do interlocutor. Essa técnica pode ser usada para recusarmos pedidos.
  2. Nevoeiro: Nessa técnica, refletimos ou parafraseamos o que a outra pessoa acaba de dizer no todo ou em parte, mas permanecemos imóveis em nossa posição. Colocamos que o interlocutor pode até ter razão, mas não admitimos que tenha de fato razão e continuamos com nosso próprio juízo. Essa técnica pode ser usada para recusar pedidos e para receber críticas.
  3. Acordo Viável: Essa técnica consiste em propor um acordo que contemple as duas partes envolvidas na conversação. Mas nem sempre é possível se chegar a um acordo porque nem tudo é negociável. Em situações em que o auto-respeito está em jogo ou que os valores sejam violados, não há negociação. Essa técnica pode ser usada para recusar pedidos ou chegarmos a um consenso do que podemos fazer diante de um pedido.
  4. Técnica do Sanduíche: Essa técnica consiste em apresentar uma expressão positiva antes e depois de uma expressão negativa para suavizar a expressão negativa (crítica) e para aumentar a probabilidade de que o receptor escute claramente a crítica. A gente elogia, faz a crítica e depois elogia de novo. Essa técnica é usada para fazermos críticas.
  5. Técnica do Cheeseburguer: A técnica do Cheeseburguer é a junção da técnica do sanduíche com o pedido da mudança de comportamento. Nela primeiro nós elogiamos, depois criticamos, pedimos a mudança de comportamento colocando exatamente o que queremos que a pessoa faça e no final elogiamos novamente.
  6. Modelos de Pedido de Mudança de Comportamento: O TRAP (Problema, Resultado, Alternativa, Resultado Final – em inglês: Trouble, ResultAlternative, Payoff) e o DESC (Descrever, Expressar, eSpecificar e Consequências) representam dois modelos de pedido de mudança de comportamento.
Conclusão:

O Treinamento de Habilidades Sociais pode ser empregado tanto com pessoas portadoras de grandes déficits quanto com pessoas que não possuem déficits, mas que em função de necessidades pessoais ou profissionais precisam aperfeiçoar suas HS.

A assertividade é uma habilidade social e como toda habilidade social precisa ser praticada, sem prática e exercícios não há aquisição de assertividade. Exatamente por isso, os trabalhos para desenvolver assertividade priorizam o aspecto comportamental, destacado neste artigo. No entanto, vale lembrar que os aspectos cognitivo (reestruturação cognitiva e treinamento em solução de problemas) e emocional (respiração diafragmática e relaxamento) precisam ser trabalhados para que a aquisição seja plena.

A assertividade é uma habilidade fundamental para o crescimento e desenvolvimento pessoal porque quando somos assertivos dizendo e fazendo o que queremos, além de dirigirmos nossas vidas, ganhamos tempo e energia para nos dedicarmos às coisas que realmente importam para nós. Um desempenho social assertivo gera autoconfiança e motivação para potencializar forças pessoais que promoverão bem estar e maior qualidade de vida.

Referências Bibliográficas:

  1. CABALLO, V. Manual de Avaliação e Treinamento das Habilidades Sociais. São Paulo: Ed. Santos, 2008. 
  2. CABALLO, V. Manual de Técnicas de Terapia e Modificação do Comportamento. São Paulo: Ed. Santos, 2002. 
  3. DEL PRETTE, Z. A. P. & DEL PRETTE, A. Psicologia das Habilidades Sociais: Terapia, Educação e Trabalho. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.   
  4. PORTELLA, M. Como identificar a mentira: sinais não-verbais da dissimulação. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006. 

Profa. Dra. MônicaPortella 

CRP:05/22229
Diretora científica e de cursos de extensão do CPAF-RJ. Pós Doutora pela PUC-RJ. Terapeuta cognitivo comportamental. Autora de livros e artigos.

Psi. Veruska Santos                                    

CRP: 05/19625

Psicóloga. Terapeuta cognitivo comportamental pelo CPAF-RJ. Atua em clínica com crianças, adolescentes e adultos.

Ignacio Martín-Baró e a Psicologia da Libertação

 Para o padre espanhol Ignacio Martín-Baró, se o objeto de estudo é a ação como ideológica, o objetivo da Psicologia Social deve ser tornar possível a liberdade sem antecipar mecanicamente o futuro, mas colocar à disposição dos atores sociais o conhecimento que possibilite atuar de forma adequada em função de valores e princípios sociais, pois quanto maior o conhecimento, maior é a clareza para decidir e agir conscientemente.


Por Luciano Schafer
Estudante de Psicologia na UFRGS



A distribuição da saúde mental está vinculada com a distribuição da riqueza produzida no país” (O psicólogo no processo revolucionário)

Ignacio Martín-Baró nasceu em Valladolid, Espanha, e veio para a América Latina como jesuíta da Companhia de Jesus, onde concluiu estudos em Filosofia, na Colômbia. Formou-se teólogo na Bélgica e psicólogo de volta à América Latina, em El Salvador, onde estabeleceu-se. Era pós-graduado, mestre e doutor pela Universidade de Chicago (EUA).

Martín-Baró foi criador da Psicologia da Libertação. Suas conclusões mostram forte posicionamento político classista, o que explica seu fuzilamento – junto a mais cinco jesuítas e duas trabalhadoras – dentro da UCA (Universidade Centro-Americana José Simeón Canãs, em San Salvador), invadida pelo Exército de El Salvador em 1989 a mando de Alfredo Cristiani, representante da burguesia salvadorenha e do imperialismo estadunidense.

Como filósofo, tratou de executar a tese 11 sobre Feuerbach, de Marx: modificar o mundo, ao invés de apenas interpretá-lo. Em seus estudos, encontramos temas como violência, saúde mental, programa ético-político para a Psicologia, definições de Psicologia Social, Psicologias Política, Comunitária e Popular, entre tantas contribuições importantes para a Psicologia e as Ciências Sociais. Conceitos tradicionais da Psicologia Social – atitude, socialização, percepção social etc. – são revisados criticamente para estudar a tortura, o machismo, a repressão e outros processos sociais dominantes na América Central.

Crítica e Libertação na Psicologia

Para Martín-Baró a avaliação objetiva da realidade deve ser efetivada pela perspectiva histórica e não pela aplicação de esquemas produzidos nos centros do Poder.

Baró apresenta três exemplos para diferenciar Sociologia de Psicologia Social e começa a definir o seu conceito sobre o estudo da Psicologia Social.

A Psicologia Social estuda o comportamento humano através do significado e valores que vinculam a pessoa à sociedade. Mais profundamente: o estudo científico da ação como ideológica, a ação como síntese de objetividade e subjetividade, sem necessidade de consciência, mas marcada por conteúdos historicamente relacionados com uma estrutura social. Assim, a ideologia é parte fundamental do estudo da Psicologia Social para Martín-Baró.

Dessa forma, a Psicologia Social é uma ciência intermediária, pois abrange o que pertence à sociedade e o que é próprio do indivíduo, e por conta disso pode perder a “tensão interdisciplinar”. Sociologia Psicológica (sociologia: unidade de análise de natureza coletiva, social, sistema ou ação) e Psicologia Social (psicologia: indivíduo como unidade de análise) sempre existiram, mas a decisão pelo uso do nome não é mera arbitrariedade linguística, e sim uma opção teórica. O estudo de papéis ou percepções, comportamentos regulados ou hábitos pessoais dirão se a perspectiva é mais sociológica ou psicológica.

Após explicar os perigos do reducionismo das duas perspectivas anteriores, Martín-Baró apresenta a terceira perspectiva, a perspectiva dialética, a negação dos polos em um processo histórico, onde pessoa e sociedade não apenas interagem, mas se constituem mutuamente.

Ao apresentar a visão histórica da Psicologia Social, Martín-Baró aprofunda sua crítica à Psicologia Social contemporânea afirmando que em alguns casos os pressupostos filosóficos de suas raízes na antiguidade são mais sofisticados que na atualidade. Sócrates, Platão, Maquiavel, Hobbes, Rousseau e Marx apresentaram diferentes soluções para problemas de suas épocas, mas sempre dentro da dicotomia Indivíduo x Sociedade. Aspectos religiosos e tecnológicos também tiveram influência no desenvolvimento desta ciência.

Quatro fatos são apontados como determinantes para o surgimento das ciências modernas e, consequentemente, da Psicologia Social: a nova consciência da diversidade humana, a concepção secularizada do homem, a revolução industrial capitalista e um novo enfoque metodológico. A partir disso, três perspectivas dividem a evolução da Psicologia Social em três períodos: o que mantém as pessoas unidas na ordem social estabelecida?, o que integra as pessoas na ordem social? e o que liberta as pessoas da desordem estabelecida?

O primeiro período ocorre na Europa e pressupõe que a sociedade é um todo comum e unitário que pode ser abalado por processos históricos. O problema fundamental é articular as necessidades dos indivíduos com as necessidades da totalidade social analisando os vínculos entre estrutura social e a estrutura da personalidade.

O segundo período ocorre nos Estados Unidos, e devido a essa “americanização”, apresenta três constantes: o individualismo, o psicologismo e a perspectiva do poder estabelecido.

O terceiro período, o questionamento do poder estabelecido e a submissão das ciências sociais aos interesses do poder, apresenta três revisões críticas: a visão da realidade social como construção, a concepção de realidade social como conflitiva e o papel político da Psicologia Social. Autores europeus voltam à cena influenciados pelo marxismo na Sociologia e pela fenomenologia na Psicologia.

Objetivos da Psicologia Social

Martín-Baró segue na crítica à Psicologia Social, que de forma estereotipada tem seu objetivo definido por “compreender, predizer e controlar” o comportamento dos indivíduos. Para ele, se o objeto de estudo é a ação como ideológica, o objetivo da Psicologia Social deve ser tornar possível a liberdade sem antecipar mecanicamente o futuro, mas colocar à disposição dos atores sociais o conhecimento que possibilite atuar de forma adequada em função de valores e princípios sociais, pois quanto maior o conhecimento, maior é a clareza para decidir e agir conscientemente.

“À Psicologia Social cabe desmascarar os vínculos que ligam os atores sociais aos interesses de classe, revelar as mediações pelas quais as necessidades de uma classe social concreta se tornam imperativos interiorizados pelas pessoas, desarticular a trama de forças objetivadas em uma ordem social que manipula os sujeitos por meio de mecanismos de falsa consciência”.

***

Ao concluir a disciplina Teorias Organizacionais I, do primeiro semestre do curso Administração Pública e Social na UFRGS, perguntei ao professor: “vamos ganhar um chicote quando nos formarmos?”

Lembrei dessa passagem ao saber que Ignacio Martin-Baró pós-graduou-se na Universidade de Chicago, centro ideológico da exploração Latino-americana. Ao ser exposto às teorias que fundaram a Administração entendi a ação de gerentes e colegas nas empresas onde trabalhei. Mesmo que a experiência em Chicago não tenha sido reveladora para Martín-Baró como foi a minha chegada à UFRGS, acredito que tenha sido um grande exercício de paciência. Ele formou-se Mestre e Doutor; eu demorei, mas troquei de curso. Ter contato com Baró foi bom, pois imaginei que na Psicologia o caminho seria o mesmo que na Administração: teorias de “amansamento” do trabalhador.

Por enfatizar o problema da Psicologia Social na ação ideológica através da dominação de classe, apontando a solução na revolução social, explica um pouco a marginalidade de Martín-Baró no Brasil. Assim como em El Savaldor, a burguesia brasileira nunca abriu mão da violência para manter seu poder. E nisso está incluído a crítica e o controle dos conteúdos de todo o sistema de educação.

Martín-Baró entendeu o papel desempenhado pelo imperialismo estadunidense no sofrimento do povo salvadorenho e colocou-se no papel de tratar esse sofrimento oferecendo ferramentas e conhecimento para que esse povo alcançasse sua libertação. E por isso foi fuzilado, assim como muitos intelectuais que lutaram ao lado de lideranças populares.

Marx afirmou que a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante, e pelo que li até agora, Martín-Baró concordou. A luta de Marx e Martín-Baró não está acabada, pois a revolução social ainda não chegou e a burguesia segue no poder. O processo dialético de construção da ideologia do proletariado está em andamento e a classe trabalhadora segue seu caminho acompanhada do conhecimento de figuras revolucionárias como Ignacio Martín-Baró.

Aspectos neuropsicológicos do córtex pré-frontal

 Maria Critis

 

 

 

 

 

 

 

"Aspectos neuropsicológicos do córtex

pré-frontal"

 

 

 

 

 

Trabalho apresentado para a disciplina de Neurologia, do curso de Especialização em Neuropsicologia Clínica do Instituto de Psicologia Aplicada e Formação, ministrada pelo Prof. Leonardo José Vaz.

 

 

 

 

 

 

 

 

Instituto de Psicologia Aplicada e Formação

Especializada em Neuropsicologia Clínica

     São Paulo – SP

      Julho - 2010

 

 

                                                                                                                                    T-24

 


 

Sumário

 

 

 

1.   Introdução.....................................................pg.03

2.   Funções mais importantes................................pg.05

3.   Área Pré-Frontal (Córtex).................................pg.06

4.   Funções executivas.........................................pg.09

5.   Atenção versus memória..................................pg.11

6.   Conclusão......................................................pg.13

7.   Bibliografia.....................................................pg.14

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Aspectos neuropsicológicos do córtex

pré-frontal"

 

 

Introdução

 

Goldberg, conceitua a função cerebral como uma grande corporação, uma grande orquestra, ou um grande exército tem componentes distintos que desempenham diferentes funções. Assim como essas inúmeras organizações humanas, o cérebro tem seus diretores executivos, seu regente, seu general: os lobos frontais. Para sermos precisos este papel é conferido a apenas uma parte dos lobos frontais, o cortex pré-frontal. Entretanto é comum utilzar-se um modo de expressão abreviado, “lobos frontais”.

Os lobos frontais receberam associação à realeza e à aura divina. Em seu notável ensaio cultural e neuropsicológico, Julian Jaynes antecipa a idéia de que os comandos executivos gerados internamente eram erroneamente tomados pelo homem primitivo como vozes de deuses originadas externamente. Fica claro que o advento das funções executivas nos primeiros estágios da civilização humana pode ter influenciado a formação ou o desenvolvimento de crenças religiosas.

Os historiadores da arte notaram detalhe curioso em “A criação de Adão”,  o grande afresco de Michelângelo no teto da capela Sistina. O manto de Deus tem a forma precisa do contorno do cérebro, seus pés pousam no tronco cerebral e sua cabeça está emoldurada pelo lobo frontal.  

 

O dedo de Deus, apontando para Adão, e tornando-o humano projeta-se do córtex pré-frontal. Nas palavras de Julius Meier-Graefe: “Há mais gênio no dedo de Deus chamando Adão para a vida do que no conjunto da obra de qualquer precursor de Michelângelo”. Ninguém sabe se a alegoria foi planejada ou foi mera coincidência. É difícil imaginar um símbolo mais poderoso do profundo efeito humanizador dos lobos frontais. Os lobos frontais são verdadeiramente “o órgão da civilização”.

Como o córtex pré-frontal não está ligado a nenhuma função única e facilmente definida, as primeiras teorias da organização cerebral negaram-lhe qualquer papel importante, eram conhecidos como lobos silenciosos.                                         

O lobo frontal, que inclui o córtex motor e pré-motor e o córtex pré-frontal, está envolvido no planejamento de ações e movimento, assim como no pensamento abstrato. A atividade no lobo frontal aumenta nas pessoas normais somente quando temos que executar uma tarefa difícil em que temos que descobrir uma sequência de ações que minimize o número de manipulações necessárias. A parte da frente do lobo frontal, o córtex pré-frontal tem que ver com estratégia: decidir que sequências de movimento ativar e em que ordem e avaliar o seu resultado.

As suas funções parecem incluir o pensamento abstrato e criativo, a fluência do pensamento e da linguagem, respostas afetivas e capacidade para ligações emocionais, julgamento social, vontade e determinação para ação e atenção seletiva.

Traumas no córtex pré-frontal fazem com que uma pessoa fique presa obstinadamente a estratégias que não funcionam ou que não consigam desenvolver uma sequência de ações correta.

 

Funções mais importantes do lobo frontal

·        Comando motor primário referente aos dedos, mão, braço, ombro, tronco, laringe, língua, face, etc.

·        Funções cognitivas e emotivas;

·        Programação e preparação dos movimentos e controle da postura;

·        Controle do movimento conjugado do olhar;

·        Processamento das informações olfatórias;

·        Área de Broca: produção do padrão de respostas motoras que resultam na expressão verbal com sentido;

·        Região homóloga à área de Broca: capacidade de expressão da emoção na palavra falada.

O Córtex Cerebral é a camada mais alta e externa do encéfalo, ou seja, dos dois hemisférios. Trata-se de uma capa de substância cinzenta de mais ou menos 0,3 centímetros de espessura.

Os sulcos e fissuras do Córtex Cerebral é que definem suas regiões em, por exemplo, Lobo Frontal, Lobo Temporal, Parietal e Occipital. O Lobo Frontal é onde se concentra enorme variedade de importantes funções, incluindo o controle de movimentos e de comportamentos necessários à vida social, como a compreensão dos padrões éticos e morais e a capacidade de prever as conseqüências de uma atitude.

O Lobo Parietal recebe e é onde se processam as informações dos sentidos, enviadas pelo lado oposto do corpo. O Lobo Temporal está permanentemente envolvido em processos ligados a audição e memorização, enquanto o Lobo Occipital é o centro que analisa as informações captadas pelos olhos e as interpreta mediante um intrincado processo de comparação, seleção e integração.

 

A Área Pré-Frontal - (Córtex)

 


O Córtex Pré-Frontal, considerado uma formação recente na evolução das espécies e a sede da personalidade e da vida intelectiva, modula a energia límbica e tem a possibilidade de criar comportamentos adaptativos adequados ao tomar consciência das emoções.

Na ausência desta parte do Córtex, as emoções ficam fora de controle, são exageradas e persistem após cessar o estímulo que as provocou, até que se esgote a energia nervosa. Por outro lado, o Sistema Límbico através do Hipotálamo, pode exercer um efeito supressor ou inibidor sobre o neocórtex, inibindo momentaneamente a cognição e até o tônus muscular tônico, como se observa nas fortes excitações emocionais.

O relacionamento concreto entre regiões corticais e as emoções ocorreu em 1939. Nesse ano os pesquisadores Heinrich Klüver e Paul Bucy observaram uma síndrome comportamental dramática em macacos depois de submeterem os animais a uma lobotomia temporal bilateral. Os macacos, apesar de muito selvagens e agressivos, tornaram-se mansos e demonstravam um apagamento das emoções.

Esse embotamento de emoções se manifestava, inclusive, como uma espécie de cegueira emocional; os animais não se mobilizavam com objetos familiares nem com os de sua espécie.

Ao mesmo tempo eles apresentaram uma contundente tendência oral, levando à boca todos os objetos.

A área pré-frontal se desenvolveu bastante, na escala filogenética, com o aparecimento dos mamíferos, sendo particularmente desenvolvida no ser humano e, curiosamente, em algumas espécies de golfinhos.

Mas a área Pré-Frontal não faz parte do Sistema Límbico. Entretanto, as intensas conexões que mantém com o tálamo, amígdala e outras estruturas subcorticais límbicas, justificam seu importante papel na expressão dos estados emocionais.

Assim como ocorreu na experiência de Heinrich Klüver e Paul Bucy em relação ao Lobo Temporal, quando o Córtex Pré-Frontal é lesado, há severo prejuízo das responsabilidades sociais, bem como da capacidade de concentração e de abstração, apesar de se manterem intactas a consciência e a linguagem.

Em 1935, foi realizada a primeira Lobotomia Pré-Frontal em seres humanos. Foram seccionadas as conexões límbicas, isolando o Córtex Pré-Frontal, em sua área orbito frontal, na tentativa de tratar alterações emocionais graves decorrentes de doença mental. A princípio houve redução da ansiedade desses pacientes, mas complicações como o desenvolvimento de epilepsia e alterações anormais da personalidade, como a falta de inibição ou de iniciativa ou de motivação impediram a continuidade desse tipo de tratamento.

Da mesma forma como os macacos de Heinrich Klüver e Paul Bucy tinham prejuízo emocional após retirada do Lobo Temporal,   a  Lobotomia   Pré-Frontal   realizada em  seres humanos para tratamento de certos distúrbios  psiquiátricos, resultava igualmente num certo empobrecimento afetivo. Nessas pessoas não aparecia mais quaisquer sinais de alegria, tristeza, esperança ou desesperança.

A área pré-frontal do córtex corresponde a parte anterior não motora do lobo frontal. Ela mantém conexões com o sistema e com o núcleo dorso medial do tálamo. Ela é responsável pela escolha das opções e estratégias comportamentais, pela manutenção da atenção e pelo controle do comportamento emocional.

A mais importante função associativa do lobo pré-frontal parece ser, efetivamente, integrar informações sensitivas externas e internas, pesar as conseqüências de ações futuras para efetuar o planejamento motor de acordo com as conclusões.

Exemplos dos tipos mais incapacitantes de Síndromes Cognitivas clássicas;

Apraxia –- distúrbio dos movimentos aprendidos na ausência de alterações sensoriomotoras elementares (paralisias, ataxia, alterações da sensibilidade), (hemisfério cerebral esquerdo).

Ideativa – ações rotineiras, como fazer café, lavar a louça, dirigir, se decompõem em elementos mais simples, que são efetuados fora das seqüências corretas. ( córtex pré-frontal).

 

 

Funções Executivas

Conceituação, diferentes propostas, estudos e abordagens.

Função executiva, conjunto de operações mentais que organizam e direcionam os diversos domínios cognitivos categoriais para que funcionem de maneira biologicamente adaptativa. Para que a utilização dos recursos físicos e sociais seja econômica e eficaz, não basta que os domínios cognitivos categoriais estejam intactos, é essencial que, além disso, sejam integrados aos propósitos de curto, médio e longo prazos do individuo.

Um dos axiomas da Neuropsicologia é que o funcionamento executivo confere autonomia ao individuo em relação ao seu meio ambiente.

Quando as funções executivas falham, o individuo perde a autonomia, tornando-se anormalmente dependente, o que é descrito, por exemplo, como “passividade”, “docilidade”, “indiferença”. Outra condição clínica comum é a síndrome do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade da criança.

O córtex pré-frontal desempenha papel fundamental na formação de metas e objetivos no planejamento de estratégias de ação necessárias para a consecução de objetivos. Ele seleciona as habilidades cognitivas requeridas para a implementação dos planos, coordena essas habilidades e as aplica em uma ordem correta. Finalmente o córtex pré-frontal é responsável pela avaliação do sucesso ou do fracasso de nossas ações em relação aos nossos objetivos.

Para tanto, Shimamura propõe uma seleção dinâmica teórica para descrever o papel do córtex pré-frontal em funções executivas, para agir como um alto nível gating ou mecanismo de filtragem que melhora ativações goal-directed e inibe ativações irrelevante. Este mecanismo de filtragem permite o controle de execução em vários níveis de processamento, incluindo a seleção, manutenção, atualização, ativações e reencaminhamento. Também tem sido usada para explicar a regulação emocional.

Miller e Cohen propuseram uma teoria integrativa do córtex pré-frontal. Os dois teorizaram que "controle cognitivo decorre da manutenção ativa dos padrões de atividade no córtex pré-frontal, que representa os objetivos e os meios para alcançá-los. Eles fornecem sinais de polarização para outras estruturas do cérebro, cujo efeito é o de orientar o fluxo de atividade ao longo dos caminhos neurais que estabelece o mapeamento adequado entre entradas, estados internos e produtos necessários para executar uma determinada tarefa. Essencialmente teorizam que o córtex pré-frontal orienta as entradas e conexões, que permite o controle cognitivo de nossas ações.

O córtex pré-frontal é de significativa importância durante o processamento top-down. Top-down de transformação, por definição, é quando o comportamento é guiado por estados internos ou intenções. Segundo os dois pesquisadores, "O córtex pré-frontal é crítico em situações em que os mapeamentos entre os inputs sensoriais, pensamentos e ações são pouco ou estabelecidos em relação a outros existentes ou mesmo os que estão mudando rapidamente. Um exemplo disto pode ser retratado na tarefa de classificar do cartão Wisconsin (WCST). Indivíduos que exerçam esta tarefa são instruídos a classificar os cartões de acordo com a forma, cor ou número de símbolos que aparecem nelas. A idéia é que qualquer cartão de dado pode ser associado com um número de ações e nenhum mapeamento estímulo-resposta. Seres humanos com danos do córtex pré-frontal são capazes de classificar o cartão nas tarefas iniciais simples, mas incapazes de fazer assim com as regras de mudança de classificação.

Miller e Cohen concluem que a implicação de sua teoria pode explicar o quanto o córtex pré-frontal tem de orientar o controle das ações cognitivas. Os pesquisadores afirmam que em função do seu objetivo de influência, as representações no córtex pré-frontal pode funcionar de várias formas como os modelos de atenção, regras ou objetivos, fornecendo sinais de viés top-down para outras partes do cérebro que orientam o fluxo de atividade ao longo dos caminhos necessários para executar uma tarefa.

Em poucas décadas atrás, imagens do cérebro  de sistemas têm sido utilizados para determinar volumes da região do cérebro e as ligações nervosas. Vários estudos têm indicado que o volume reduzido e as interconexões entre os lobos frontais com outras regiões cerebrais são observados em pessoas com esquizofrenia, a depressão, as pessoas submetidas a estresse repetido, vítimas de suicídio, criminosos encarcerados, sóciopatas e viciados em drogas. Acredita-se que pelo menos alguma das habilidades humanas de sentir culpa ou remorso, e interpretar a realidade, encontram-se no córtex pré-frontal. Acredita-se que o tamanho e o número de conexões no córtex pré-frontal estão diretamente relacionados com sensibilidade.

O córtex pré-frontal em humanos ocupa uma porcentagem muito maior do cérebro do que qualquer outro animal. A evolução humana mostra que em 5 milhões de anos aumentou em seis vezes o tamanho do córtex pré-frontal.

 

Atenção versus memória no córtex pré-frontal

 

Uma teoria amplamente aceita sobre a função do córtex pré-frontal é o da memória de curto prazo. Esta idéia foi formulada primeiramente por Jacobsen, que relatou em 1935 que os danos causados ao córtex pré-frontal de primatas determinou déficits de memória de curta duração.

Karl Pribram e colegas (1952) identificaram a parte do córtex pré-frontal responsável por este déficit como área 46, também conhecido como o córtex pré-frontal dorsolateral. Recentemente, Goldman Rakic e colegas (1993) evocam prazo e perda de memória de curta duração em regiões localizadas do espaço por inativação temporária dos porções do DLPFC. Uma vez que o conceito de memória de trabalho foi criada em neurociência contemporânea por Baddeley (1986), estes achados neuropsicológicos contribuem para a teoria de que o córtex pré-frontal implementa a memória de trabalho e, em algumas formulações extremas, apenas a memória de trabalho. Nos anos 1990 essa teoria desenvolveu uma sequência de importância, e tornou-se a teoria da função predominante pré-frontal, especialmente para os primatas não-humanos. O conceito de memória de trabalho utilizado pelos defensores dessa teoria centrada principalmente na manutenção de curto prazo das informações, e muito menos sobre a manipulação ou o acompanhamento de tais informações ou a utilização dessas informações para decisões. Coerente com a idéia de que o córtex pré-frontal tem funções predominantemente na manutenção da memória, a atividade período de atraso tem sido muitas vezes interpretada como um traço de memória. (A frase "atraso período de atividade" aplica-se a atividade neuronal que se segue a apresentação transiente de um sinal de instrução e persiste até que uma nova "go" ou "gatilho" dê sinal.)

Para explorar interpretações alternativas da atividade período de atraso no córtex pré-frontal, Levedev et al. (2004) investigou as taxas de descarga de neurônios do córtex pré-frontal como único macacos foram um estímulo para a marcação de um local ao recordar um local diferente, não marcado. Ambos os locais serviram como potenciais alvos de movimentos oculares sacádicos. Os resultados mostraram que as funções de memória de curto prazo não podem explicar tudo, ou mesmo mais, a atividade período de atraso em parte do córtex pré-frontal explorado. Os autores sugeriram que a atividade pré-frontal durante o período de atraso, contribui mais para o processo de seleção de atenção (e atenção seletiva) do que para o armazenamento de memória.

 

 

 

 

Conclusão

 

Parece, portanto, que existem fortes similaridades entre a evolução do cérebro, da sociedade e de sistemas computacionais feitos pelo homem. Cada um é caracterizado por uma transição do princípio modular de organização para o princípio distribuído. Um estágio altamente evoluído deste processo, um sistema de controle “executivo” emerge para ajudar a controlar na perspectiva de anarquia e caos, que paradoxalmente aumenta com o aumento de qualquer complexidade do sistema. Essa discussão da relação autonomia e controle em vários sistemas complexos e as lições tiradas da análise do cérebro para a compreensão da sociedade é o que deve ficar registrado. Nenhum sistema complexo pode ter êxito sem um mecanismo executivo eficaz, aqui no caso “os lobos frontais”. Mas os lobos frontais operam melhor como parte de uma estrutura interativa altamente distribuída com grande autonomia e muitos graus de liberdade. A relação peculiar entre autonomia e controle incorporada no controle executivo exercido pelos lobos frontais foi captada na frase cunhada por Frederich Engels:

“A liberdade é necessidade reconhecida”.

 

 

 

 

 

 

 

 

Bibliografia

 

 

 

1)      Lent, Roberto, Neurociência da Mente e do Comportamento – Guanabara Koogan, 2008.

2)      Goldberg, Elkhonon, O Cérebro Executivo; Lobos

Frontais e a Mente Civiliada. Imago Ed. 2002.

3)      Ratey, John J. – O Cérebro um guia para o usuário,

Objetiva, 2002.

4)      Machado, Ângelo, Neuroanatomia Funcional. Atheneu,

     2ª edição.

5)      Pesquisa em mídia eletrônica.

. Wikipédia.org/wiki/cérebro_humano

. Afh.bio.br/básicos/nervoso3.htm

       . Ciênciahoje.pt/índex.php

 

 

 

 

 

 

 

 

Maria Critis






Mihaly Csikszentmihalyi

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Mihaly Csikszentmihalyi
Csikszentmihalyi
Csikszentmihalyi em 2010
Nascermos
Mihaly Robert Csikszentmihalyi

29 de setembro de 1934
Faleceu20 de outubro de 2021 (87 anos)
Nacionalidadehúngaro
Alma materUniversidade de Chicago
Ocupaçãopsicólogo, acadêmico
Conhecido porFluxo (psicologia)
Psicologia positiva Atividades
autotélicas
Cônjuge(s)
Isabella Selega
 
Em
m.  1961 )
Crianças2; incluindo Christopher
Carreira científica
CamposPsicologia
InstituiçõesClaremont Graduate University
Universidade de Chicago
Lake Forest College
TeseProblemas artísticos e suas soluções; uma exploração da criatividade nas artes.  (1965)
Orientador de doutoradoJacob W. Getzels
Estudantes de doutoradoKeith Sawyer

Mihaly robert csikszentmihalyi ( m iː h a ɪ t ː ɛ ː ˌ ɑː ːː / húngaro : csíckszentmihályi mihály róbert , pronunciado  [t͡ʃiːksɛntmihaːji mihaːj] ouça )ícone de alto-falante de áudio ; 29 de setembro 1934 - 20 de outubro 2021) foi um psicólogo húngaro-americano. Ele reconheceu e nomeou o conceito psicológico de " fluxo" , um estado mental altamente focado que conduz à produtividade. [1][2] Ele foi o Distinguished Professor of Psychology and Management na Claremont Graduate University . Ele também foi o ex-chefe do departamento de psicologia da Universidade de Chicago e do departamento de sociologia e antropologia do Lake Forest College . [3]

Início da vida editar ]

Mihaly Robert Csikszentmihalyi nasceu em 29 de setembro de 1934 em Fiume , [4] agora conhecido como Rijeka , [5] então parte do Reino da Itália . Seu nome de família deriva da aldeia de Csíkszentmihály na Transilvânia. [6] Ele era o terceiro filho de um diplomata de carreira no consulado húngaro em Fiume. [5] [7] Seus dois meio-irmãos mais velhos morreram quando Csikszentmihalyi ainda era jovem; um era um estudante de engenharia que foi morto no cerco de Budapeste , e o outro foi enviado para campos de trabalho na Sibéria pelos soviéticos. [7]

Seu pai foi nomeado embaixador húngaro na Itália logo após a Segunda Guerra Mundial , mudando a família para Roma. [7] [8] Quando os comunistas tomaram a Hungria em 1949, o pai de Csikszentmihalyi renunciou ao invés de optar por trabalhar para o regime. O regime comunista respondeu expulsando seu pai e privando a família de sua cidadania húngara. [7] Para ganhar a vida, seu pai abriu um restaurante em Roma, e Csikszentmihalyi abandonou a escola para ajudar na renda familiar. [5] [7] Neste momento, o jovem Csikszentmihalyi, então viajando na Suíça, viu Carl Jung dar uma palestra sobre a psicologia dos avistamentos de OVNIs. [7]

Csikszentmihalyi emigrou para os Estados Unidos aos 22 anos, trabalhando à noite para se sustentar enquanto estudava na Universidade de Chicago . [7] Ele recebeu um BA em 1959 e um Ph.D. em 1965, ambos da Universidade de Chicago. [7] [9] Ele então ensinou no Lake Forest College , antes de se tornar professor na Universidade de Chicago em 1969. [7]

Trabalho editar ]

Csikszentmihalyi foi conhecido por seu trabalho no estudo da felicidade e criatividade , mas é mais conhecido como o arquiteto da noção de fluxo e por seus anos de pesquisa e escrita sobre o tema. [10] Martin Seligman , ex-presidente da American Psychological Association , descreveu Csikszentmihalyi como o principal pesquisador do mundo em psicologia positiva . [11] Csikszentmihalyi disse uma vez: "A repressão não é o caminho para a virtude. Quando as pessoas se restringem por medo, suas vidas são necessariamente diminuídas. Somente através da disciplina livremente escolhida a vida pode ser desfrutada e ainda mantida dentro dos limites da razão." [12]Suas obras são influentes e amplamente citadas. [13]

Fluxo editar ]

AnxietyArousalFlow (psychology)WorryControl (psychology)ApathyBoredomRelaxation (psychology)
Estado mental em termos de nível de desafio e nível de habilidade, de acordo com modelo de fluxo de Csikszentmihalyi . [14] (Clique em um fragmento da imagem para ir ao artigo apropriado)

Em seu trabalho seminal, Flow: The Psychology of Optimal Experience , Csíkszentmihályi delineou sua teoria de que as pessoas são mais felizes quando estão em um estado de fluxo – um estado de concentração ou absorção completa com a atividade em questão e a situação. [15] É um estado em que as pessoas estão tão envolvidas em uma atividade que nada mais parece importar. [15] O estado de fluxo é coloquialmente conhecido como sendo na zona ou no sulco . [16] É um estado ótimo de motivação intrínseca , onde a pessoa está totalmente imersa no que está fazendo. [16]Este é um sentimento que todo mundo tem às vezes, caracterizado por um sentimento de grande absorção, engajamento, realização e habilidade – e durante o qual as preocupações temporais (tempo, comida, ego, etc.) são tipicamente ignoradas. [16]

Em uma entrevista à revista Wired , Csíkszentmihályi descreveu o flow como "estar completamente envolvido em uma atividade por si mesma. O ego cai. O tempo voa. Cada ação, movimento e pensamento segue inevitavelmente do anterior, como tocar jazz . Seu todo o ser está envolvido, e você está usando suas habilidades ao máximo." [17]

Csikszentmihályi caracterizou nove estados componentes para alcançar o fluxo, incluindo “equilíbrio desafio-habilidade, fusão de ação e consciência, clareza de objetivos, feedback imediato e inequívoco, concentração na tarefa em mãos, paradoxo de controle, transformação do tempo, perda de autocontrole. consciência e experiência autotélica ". [18] Para alcançar um estado de fluxo, um equilíbrio deve ser alcançado entre o desafio da tarefa e a habilidade do executor. [19] Se a tarefa for muito fácil ou muito difícil, o fluxo não pode ocorrer, pois o nível de habilidade e o nível de desafio devem ser compatíveis e altos; se habilidade e desafio são baixos e combinados, resulta em apatia. [19]

Um estado que Csikszentmihalyi pesquisou foi o da personalidade autotélica . [18] A personalidade autotélica é aquela em que uma pessoa realiza atos porque são intrinsecamente recompensadores, em vez de alcançar objetivos externos. [20] Csikszentmihalyi descreveu a personalidade autotélica como um traço possuído por pessoas que podem aprender a desfrutar de situações que a maioria dos outros acharia miseráveis. [21] A pesquisa mostrou que os aspectos associados à personalidade autotélica incluem curiosidade, persistência e humildade. [22]

Motivação editar ]

A maioria dos trabalhos finais de Csikszentmihalyi se concentrou na ideia de motivação e nos fatores que contribuem para a motivação, o desafio e o sucesso geral. [23] Uma característica de personalidade que Csikszentmihalyi pesquisou em detalhes foi a motivação intrínseca . [24] Ele e seus colegas descobriram que pessoas intrinsecamente motivadas eram mais propensas a serem direcionadas a objetivos e desfrutarem de desafios que levariam a um aumento na felicidade geral. [23]

Csikszentmihalyi identificou a motivação intrínseca como um traço poderoso para otimizar e aprimorar experiências positivas, sentimentos e bem-estar geral como resultado de experiências desafiadoras. [25] Os resultados indicaram um novo construto de personalidade , que ele chamou de orientação para o trabalho , caracterizado por "realização, resistência, estrutura cognitiva, ordem, jogo e baixa impulsividade". [25] Um alto nível de orientação para o trabalho nos alunos é considerado um melhor preditor de notas e cumprimento de metas de longo prazo do que qualquer influência ambiental escolar ou familiar. [25]

Vida pessoal editar ]

Csikszentmihalyi casou-se com Isabella Selega em 1961. [26] Ele era o pai do artista e professor Christopher Csíkszentmihályi , e da Universidade da Califórnia, Berkeley professor de tradições filosóficas e religiosas da China e Ásia Oriental Mark Csikszentmihalyi. [27]

Em 2009, Csikszentmihalyi recebeu o Prêmio Clifton Strengths. [28] Ele recebeu o Prêmio Széchenyi em uma cerimônia em Budapeste em 2011. [29] Ele foi condecorado com a Ordem do Mérito da Grã-Cruz da República da Hungria em 2014. [8] Ele foi membro da Academia Americana de Artes e Sciences e membro da Academia Nacional de Educação e da Academia de Ciências do Lazer. [7]

Csikszentmihalyi morreu em 20 de outubro de 2021 de parada cardíaca, em sua casa em Claremont, Califórnia , aos 87 anos. [30] [31]

Publicações editar ]

  • Csikszentmihalyi, Mihaly (1975). Além do tédio e da ansiedade: experimentando o fluxo no trabalho e no lazer , San Francisco: Jossey-Bass. ISBN  0-87589-261-2
  • Csikszentmihalyi, Mihaly (1978) "Recompensas intrínsecas e motivação emergente" em The Hidden Costs of Reward: New Perspectives on the Psychology of Human Motivation Eds Lepper, Mark R; Greene, David, Erlbaum: Hillsdale: NY 205–216 [32]
  • Csikszentmihalyi, Mihaly e Halton, Eugene (1981). O Significado das Coisas: Símbolos Domésticos e o Self , Cambridge: Cambridge University Press . ISBN 0-521-28774-X 
  • Csikszentmihalyi, Mihaly e Larson, Reed (1984). Ser Adolescente: Conflito e Crescimento na Adolescência . Nova York: Basic Books, Inc. ISBN 0-465-00646-9 
  • Csikszentmihalyi, Mihaly e Csikszentmihalyi, Isabella Selega, eds. (1988). Experiência ideal: Estudos psicológicos de fluxo na consciência , Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-34288-0 
  • Csikszentmihalyi, Mihaly (1990). Fluxo: A Psicologia da Experiência Ótima . Nova York: Harper and Row. ISBN 0-06-092043-2 
  • Csikszentmihalyi, Mihaly (1994). The Evolving Self , Nova York: Harper Perennial. ISBN 0-06-092192-7 
  • Csikszentmihalyi, Mihaly (1996). Criatividade: Fluxo e a Psicologia da Descoberta e Invenção . Nova York: Harper Perennial. ISBN 0-06-092820-4 
  • Csikszentmihalyi, Mihaly (1998). Encontrando o fluxo: a psicologia do envolvimento com a vida cotidiana . Livros Básicos. ISBN 0-465-02411-4 
  • Gardner, Howard , Csikszentmihalyi, Mihaly e Damon, William (2001). Bom trabalho: quando a excelência e a ética se encontram . Nova York, Livros Básicos. [33]
  • Csikszentmihalyi, Mihaly (2003). Bons Negócios: Liderança, Fluxo e Criação de Significado . Basic Books, Inc. ISBN 0-465-02608-7 
  • Csikszentmihalyi, Mihaly (2014). O Modelo de Sistemas de Criatividade: As Obras Coletadas de Mihaly Csikszentmihalyi . Dordrecht: Springer, 2014. ISBN 978-94-017-9084-0 
  • Csikszentmihalyi, Mihaly (2014). Fluxo e os fundamentos da psicologia positiva: as obras coletadas de Mihaly Csikszentmihalyi . Dordrecht: Springer, 2014. ISBN 978-94-017-9087-1 
  • Csikszentmihalyi, Mihaly (2014). Aplicações do Fluxo no Desenvolvimento Humano e na Educação: As Obras Completas de Mihaly Csikszentmihalyi . Dordrecht: Springer, 2014. ISBN 978-94-017-9093-2 

Veja também editar ]

Referências editar ]

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  3. "Mihaly Csikszentmihalyi" . Claremont Graduate University Recuperado em 2 de março de 2017 .
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  5. ^Saltar para:c Cooper, Andrew (1 de setembro de 1998). "O homem que encontrou o fluxo"Rugido do LeãoRecuperado em 6 de maio de 2018.
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Psicologia Positiva: uma nova abordagem para antigas questões Simone dos Santos Paludo Sílvia Helena Koller Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil
https://www.scielo.br/j/paideia/a/mPnRBjz6RrFFy9LPwSmFppz/?format=pdf&lang=pt


Paludo, S. S., & Koller, S. H. (2007). Psicologia Positiva 9 Psicologia Positiva: uma nova abordagem para antigas questões Simone dos Santos Paludo Sílvia Helena Koller Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil Resumo: Historicamente, a Psicologia preocupou-se em investigar patologias, negligenciado os aspectos saudáveis dos seres humanos. Mas, a partir de 1998, assumindo a presidência da American Psychological Association, Seligman iniciou movimento denominado Psicologia Positiva, que visa oferecer nova abordagem às potencialidades e virtudes humanas, estudando as condições e processos que contribuem para a prosperidade dos indivíduos e comunidades. Este artigo apresenta e discute essa nova proposta científica, que promete melhorar a qualidade de vida dos indivíduos e prevenir patologias; também as lacunas existentes nas investigações em Ciências Humanas, as contribuições teóricas e empíricas e as possíveis aplicações desse conhecimento. Palavras-chave: Psicologia positiva. Potencialidades humanas. Histórico da investigação psicológica. Positive Psychology: a new approach to old questions Abstract: Throughout history, Psychology studies were focused on pathologies, neglecting issues related to human healthy state. In 1998, when Seligman assumed the head of American Psychological Association, he started the Positive Psychology movement, which objective is to offer a new approach to human strengthens and virtues, by studying the conditions and processes that contribute to the prosperity of individuals and communities. The present paper presents and discusses this new scientific approach that intends to promote the quality of life at individual and community levels, preventing pathologies. We also point out its gaps in Human Sciences-directed investigations, as well as its theoretical and empirical contributions and applications. Keywords: Positive psychology. Human potentiality. History of psychological investigation. Psicología Positiva: un nuevo acercamiento para antiguas cuestiones Resumen: Históricamente, la Psicología se preocupó por investigar patologías, descuidándose de los aspectos saludables de los seres humanos. Pero, desde 1998, Cuando Seligman, asumió la presidencia de la American Psychological Association, se inició el movimiento denominado Psicología Positiva, cuyo objetivo fue dar una nueva mirada a las potencialidades y virtudes humanas, estudiando las condiciones y los procesos que contribuyen para la prosperidad de los individuos y comunidades. Este articulo presenta y discute esta nueva propuesta científica, que promete mejorar la calidad de vida de los individuos y prevenir patologías; así como indicar las lagunas producidas en las investigaciones de las Ciencias Humanas, sus contribuciones teóricas, empíricas y posibles aplicaciones. Palabras clave: Psicología positiva. Potencialidades humanas. Historia de la investigación psicológíca. ______________________________________Disponível em www.scielo.br/paideia____________________________________ 10 Paidéia, 2007, 17(36), 9-20 Nos últimos anos, muitas tragédias têm sido anunciadas pelos principais meios de comunicação em todo o mundo - guerras, criminalidade, doenças, pobreza, tráfico de drogas, mortalidade infantil, entre outros. Devido a tal evidência, o destaque a esses eventos parece contraditório aos aspectos positivos da natureza humana. Pergunta-se, então, como a ciência poderia investigar as causas da felicidade se existem, por exemplo, outros fatores mais emergentes, como as causas da depressão? Mas, será que o progresso da ciência deve ser orientado somente pelas emergências? Ou pode se ocupar de outros temas? Como primeira resposta, tem-se a Psicologia abordando essas questões dentro de um novo movimento científico intitulado Psicologia Positiva, que, nessa nova proposta científica promete melhorar a qualidade de vida dos indivíduos e prevenir as patologias. O movimento pela Psicologia Positiva teve início em 1998, quando o psicólogo Martin Seligman assumiu a presidência da American Psychological Association (APA). Segundo ele, a ciência psicológica vinha negligenciando o estudo dos aspectos virtuosos da natureza humana, o que pode ser confirmado por uma simples pesquisa no banco de dados da PsycInfo. Ao utilizar a palavra-chave “depressão” são encontrados 110382 artigos entre os anos de 1970 e 2006, por outro lado, a palavra-chave “felicidade” indica apenas 4711 artigos publicados no mesmo período, ou seja, menos da metade. Para evidenciar a realidade da produção cientifica em Psicologia, Seligman e Czikszentmihalyi publicaram uma edição especial da American Psychologist em janeiro de 2000, na qual enfatizaram que a Psicologia não produzia conhecimento suficiente sobre os aspectos virtuosos e as forças pessoais que todos seres humanos possuem. Nessa importante publicação, apontaram as lacunas presentes nas investigações psicológicas e destacaram a necessidade de pesquisas sobre aspectos positivos como, por exemplo, esperança, criatividade, coragem, sabedoria, espiritualidade, felicidade. No entanto, em cinco anos, houve grande expansão e muito tem acontecido nesse movimento científico; é grande o número de artigos e livros publicados, conforme mostra a literatura (Aspinwall & Staudinger, 2003; Compton, 2005; Keyes & Haidt, 2003; Lopez & Snyder, 2003; Peterson & Seligman, 2004; Schmuck & Sheldon, 2001; Snyder & Lopez, 2002); são muitas as conferências, cursos, financiamentos e prêmios oferecidos a pesquisadores do mundo inteiro a fim de fortalecer e divulgar o estudo empírico e teórico. A Psicologia Positiva está, pois, em pleno processo de expansão dentro da ciência psicológica, a qual possibilita uma reavaliação das potencialidades e virtudes humanas por meio do estudo das condições e processos que contribuem para a prosperidade. De acordo com essa nova visão, o conhecimento das forças e virtudes poderia propiciar o “florescimento” (flourishing) das pessoas, comunidades e instituições. E florescimento tem sido um termo bastante utilizado na Psicologia Positiva, sendo definido por Keyes e Haidt (2003), como uma condição que permite o desenvolvimento pleno, saudável e positivo dos aspectos psicológicos, biológicos e sociais dos seres humanos. Keyes e Haidt (2003) salientam, ainda, que o florescimento significa um estado no qual os indivíduos sentem uma emoção positiva pela vida, apresentam um ótimo funcionamento emocional e social e não possuem problemas relacionados à saúde mental, o que não quer dizer ser um “super-homem ou super-mulher”, mas indivíduos considerados em pleno florescimento são aqueles que vivem intensamente mais do que meramente existem (Keyes & Haidt, 2003). O processo histórico A negligência ao estudo dos aspectos positivos e virtuosos dos seres humanos pela Ciência Psicológica, de acordo com Seligman (2002), baseou-se historicamente no pensamento dominante na Psicologia direcionado ao estudo dos aspectos “anormais”. Parece que o fator mais intrigante no estudo do comportamento humano não era representado pela média da população, mas o improvável e o diferente. Embora tenham surgido psicólogos humanistas como, Abraham Maslow (1954) e Carl Rogers (1959), comprometidos com uma nova visão e perspectiva sobre o comportamento humano, suas idéias não pareceram ser suficientemente atrativas e, conseqüentemente, não produziram dados empíricos suficientes para dar força a uma visão mais positiva do ser humano. Seligman e Csikszentmihalyi (2000) apontam a falta Paludo, S. S., & Koller, S. H. (2007). Psicologia Positiva 11 de rigor metodológico e a inconsistência dos resultados como principais responsáveis pelo enfraquecimento da Psicologia Humanista. Talvez esses autores estivessem à frente de seu tempo e, por isso, suas idéias não foram reconhecidas como necessárias à Psicologia, naquele momento. Existem importantes discussões sobre as interlocuções e as aproximações teóricas e conceituais entre a Psicologia Humanista e a Psicologia Positiva. Hernandez (2003) apresenta as diferentes manifestações sobre a origem das idéias que fundamentam essa nova abordagem psicológica. Os pesquisadores humanistas dividem-se em dois grandes grupos, aqueles que questionam as proposições de Seligman (Resnick, Warmoth & Serlin, 2001; Taylor, 2001) e aqueles que as aceitam (Pajares, 2001; Sollod, 2000). Certamente o movimento da Psicologia Positiva compartilha e resgata conceitos e objetivos propostos pela terceira força em Psicologia. Hernandez (2003) propõe uma parceria entre as novas idéias do presente e as novas idéias do passado e sugere a necessidade de estudos que explorem essas relações. É importante reconhecer que a Psicologia Humanista enfatizou aspectos positivos do desenvolvimento humano, no entanto, suas contribuições científicas receberam pouca atenção no passado. Inúmeros motivos podem ser apontados para justificar a preferência pelos aspectos negativos em detrimento aos positivos. Primeiro, existe uma tendência para o estudo dos fatores que afligem a humanidade, e a expressão e experiência de emoções negativas são responsáveis pela maioria desses conflitos. Em contraste, experiências que promovem felicidade, muitas vezes, passam desapercebidas. Seligman (2002) salienta a II Guerra Mundial como um marco importante para o estudo focado somente nas patologias. Antes desse acontecimento, a Psicologia possuía três missões: curar as doenças mentais; tornar a vida das pessoas mais produtiva e feliz; e, identificar e criar talentos. No entanto, após a guerra, as duas últimas missões foram esquecidas. A necessidade de tratar os veteranos de Guerra e a fundação do Instituto Nacional de Saúde Mental nos Estados Unidos propiciaram vantagens econômicas, profissionais e sociais aos psicólogos e pesquisadores. Dessa forma, as pesquisas e o atendimento clínico concentraram-se no “reparo” dos danos e prejuízos provocados pelas patologias, de acordo com um modelo de doença do funcionamento humano. Esse movimento trouxe benefícios importantes para o fortalecimento e o aperfeiçoamento das terapias e tratamentos para as doenças mentais, mas ao mesmo tempo, enfraqueceu as investigações sobre os aspectos virtuosos dos seres humanos. Como outros psicólogos, Seligman devotou sua carreira ao estudo das doenças mentais, especialmente da depressão. Ao assumir a presidência da APA, enfatizou os avanços que a Ciência Psicológica havia obtido nos últimos anos; ele salientou que não havia tratamentos disponíveis para nenhuma doença mental no ano de 1947 e que, nos anos 90, 14 diferentes doenças já podiam ser tratadas através de psicoterapia e psicofarmacologia, ou ambas, o que era uma notável vantagem trazida pelo estudo das patologias. No entanto, a Psicologia ainda não era capaz de oferecer ferramentas para ajudar os indivíduos a prosperarem e a florescerem. Segundo Seligman (2002), a Psicologia deveria possibilitar muito mais do que apenas reparar o que está errado, devendo identificar e fortalecer o que está bom. A partir desse desequilíbrio, Seligman juntamente com Csikszentmihalyi iniciam o movimento da Psicologia Positiva. Diversos pesquisadores têm discutido a origem e o movimento da Psicologia Positiva. Gable e Haidt (2005) abordam os aspectos teóricos, filosóficos e históricos que propiciaram a visão negativa da natureza humana e oferecem três razões que justificariam o interesse dos pesquisadores pela investigação das “fraquezas” dos seres humanos. Primeiramente, apontam a compaixão ou a necessidade de ajudar outras pessoas quando essas estão sofrendo; a segunda razão refere-se à II Guerra Mundial, e a todos os aspectos históricos e pragmáticos que permearam esse acontecimento; e, por último, indicam as próprias teorias sobre os processos psicológicos, que focalizam os eventos negativos. Os autores argumentam que esses fatores deram suporte ao desequilíbrio atual nas investigações científicas, embora existam poucas justificativas empíricas para a visão predominantemente negativa da natureza humana. Por outro lado, afirmam que o movimento da Psicologia Positiva colabora com a evolução da ciência, sendo que em ape- 12 Paidéia, 2007, 17(36), 9-20 nas cinco anos, ele cresceu rápido e começa a explorar novas fronteiras, levando a que o reconhecimento das virtudes humanas possa ajudar a prevenir ou a diminuir os prejuízos causados pelas patologias, pelo estresse e pelas doenças. Assinala-se que a Psicologia Positiva pretende contribuir para o florescimento e o funcionamento saudável das pessoas, grupos e instituições, preocupando-se em fortalecer competências ao invés de corrigir deficiências. Sheldon e King (2001) a definem como o estudo científico dos aspectos virtuosos usuais presentes nos indivíduos, o que demonstra a preocupação central desse movimento, que seria estudar o que é típico, ordinário e usual na maioria dos indivíduos. Portanto, compreendem os aspectos típicos como sendo os positivos. Esse movimento não implica em condenar o “resto” da Psicologia como negativo; ao contrário, seu objetivo não está em negar o que é ruim, o que vai mal, ou o que é desagradável na vida dos seres humanos, porque reconhece a existência do sofrimento humano, situações de risco e as patologias, entretanto pretende investigar a outra face dessas questões como, por exemplo, a felicidade e o altruísmo. Essa mudança de abordagem oferece novas possibilidades de resposta às antigas questões. Seligman (2002) afirma que é chegado o momento para a Psicologia Positiva. Sua principal preocupação é ampliar o campo e modificar o foco dos estudos, ou seja, a Psicologia não estar restrita apenas a reparar o que está errado ou ruim, mas (re)construir qualidades positivas; ele afirma que o tratamento psicológico e as pesquisas não devem pretender apenas consertar ou descobrir o que está “quebrado” ou não funciona, mas fomentar e nutrir o que existe de melhor nos indivíduos. Para o autor a Psicologia não é apenas uma filial da Medicina, preocupada com a doença e a saúde, mas é muito mais do que isso, envolvendo também o trabalho, a educação, o afeto, a superação e o crescimento, fatores que estão intimamente ligados às possibilidades cotidianas e comuns que passam desapercebidas diante das investigações empíricas. Estudar o comum e o positivo pode propiciar o entendimento do que adoeceu ou não vai bem. Porque, caso contrário, parece que a Psicologia se “esquece” de sua premissa básica, uma vez que a atividade profissional indica ou deveria indicar essa consciência dos aspectos positivos e ordinários no desenvolvimento dos seres humanos, porque a própria atuação dos psicólogos traz a crença nas habilidades e fatores saudáveis das pessoas, pois, para que existiriam tratamentos se eles não acreditassem na possibilidade de recuperação da boa qualidade de vida? Assim, afirma-se que essa mudança de perspectiva não é exclusiva da Psicologia Positiva, bem como não se trata de algo novo ou diferente na Ciência Psicológica, mas que resgata aspectos que, até então, eram considerados secundários. O movimento científico da Psicologia Positiva O campo da Psicologia Positiva tem oferecido espaço para a investigação empírica dos aspectos virtuosos a partir de métodos científicos rigorosos. Seligman (2003) identifica três importantes pilares para a investigação nessa perspectiva: 1) a experiência subjetiva; 2) as características individuais – forças pessoais e virtudes; 3) as instituições e comunidades. A experiência subjetiva refere-se aos estudos sobre o bem-estar subjetivo, experiências positivas ocorridas no passado (Diener, 2000), emoções positivas (Frederickson, 2002b); e, no presente, a aspectos como felicidade (Myers, 2000; Seligman & Csikszentmihalyi, 2000) e transcendência – flow (Nakamura & Csikszentmihalyi, 2002); assim como, no futuro, às relacionadas à esperança (Snyder, Rand & Sigmon, 2002) e ao otimismo (Carver & Scheier, 2002). Em relação às características individuais, são focalizados os estudos relacionados às capacidades para o afeto (Hendrick & Hendrick, 2002), o perdão (McCullough & Witvliet, 2002), a espiritualidade (Pargament & Mahoney, 2002), o talento e a sabedoria (Baltes, Gluck & Kunzmann, 2002). E, no nível relacionado ao funcionamento dos grupos, é incentivado o estudo sobre as virtudes cívicas e instituições que possibilitam mudanças dos indivíduos como melhores cidadãos, com o foco direcionado para a responsabilidade, o altruísmo, a tolerância (Turner, Barling & Zacharatos, 2002) e a ética no trabalho (Handelsman, Knapp & Gottlieb, 2002). Investigar esses fatores pode ser eficaz na prevenção de problemas relacionados ao comportamento humano. Nos últimos 50 anos, muitos foram os estudos e pesquisas sobre as diferentes patologias e Paludo, S. S., & Koller, S. H. (2007). Psicologia Positiva 13 modelos de doença. Entretanto, pouco se conhece sobre prevenção, o que se confirma pela escassez de trabalhos sobre os aspectos saudáveis, mantidos durante o desenvolvimento da doença. Com certeza, o principal progresso dado à prevenção tem ocorrido a partir da construção de competências. Pesquisadores reconhecem que as virtudes e as forças pessoais atuam como agentes protetores e preventivos nas doenças mentais. Conhecer os danos e as fraquezas pessoais não se mostra suficiente para promover a prevenção. É necessário fortalecer as pesquisas e o trabalho clínico sobre as habilidades e as capacidades dos seres humanos. Um dos principais aportes teóricos que oferece espaço para o estudo dessas habilidades refere-se à resiliência. Ryff e Singer (2003) afirmam que o funcionamento positivo humano é mais evidente em contextos de mudanças significativas repletas de situações de risco e de adversidades. A análise da resiliência favorece a compreensão das forças humanas, ou seja, quando ela se expressa, as virtudes e as forças pessoais tornam-se conhecidas e, essa possibilidade produz efeitos importantes na vida dos indivíduos, uma vez que favorece suas potencialidades, tornando-os mais fortes e produtivos. Masten (2001) reconhece que a resiliência é um fenômeno comum e presente no desenvolvimento de qualquer ser humano. No entanto, geralmente, essas forças são conhecidas pela própria pessoa apenas nos momentos adversos. Para compreender a resiliência, segundo Rutter (1993), é preciso saber a dinâmica das características protetoras, ou seja, como se desenvolveu e modificou a trajetória do indivíduo. Nesse sentido, pode-se perceber a importância do reconhecimento das habilidades e capacidades individuais. E Seligman (2003) salienta que para alcançar sucesso em prevenção é necessário e emergente o investimento no conhecimento científico sobre as virtudes e forças pessoais, o que pode ser uma contribuição da Psicologia Positiva. O movimento da Psicologia Positiva tem produzido importantes aplicações e avanços científicos. Segundo Snyder e Lopez (2002), um dos passos mais importantes nessa promoção foi a independência do modelo tradicional patológico. Certamente, essa afirmação demonstra uma preocupação de renomados cientistas pelo outro lado – o lado bom dos seres humanos, embora o “lado escuro” ainda atraia atenção de muitos. A Psicologia Positiva não pretende travar batalhas a fim de descobrir ou demonstrar a superioridade de um ou outro modelo explicativo do comportamento humano, mas levar a que se reconheça uma nova abordagem constituída de rigorosos métodos da ciência para a investigação dos fatores que dão significado ao que há de sadio no ser humano; ela pode e 14 Paidéia, 2007, 17(36), 9-20 deve se ocupar de todos os passos metodológicos da Ciência “tradicional” para promover o conhecimento. Muitos pesquisadores têm feito uso dessas premissas para investigar os aspectos virtuosos e as forças existentes nos indivíduos, comunidades e instituições, o que pode ser confirmado através do que mostra o banco de dados do PsychInfo, onde são encontradas 793 referências sobre Psicologia Positiva no período compreendido entre o ano 2000 até 2006 (ver Figura 1). Constata-se a existência de uma tendência positiva devido ao crescente número de publicações no cenário científico internacional, o que evidencia o interesse dos pesquisadores nessas temáticas. É inegável o crescimento da área, apesar da visível queda no ano de 2005. Além disso, essa ampla gama de estudos demonstra a capacidade e a emergência desse movimento em pouco tempo. Contribuições da Psicologia Positiva Entre as principais contribuições destacam-se a construção de instrumentos de avaliação, modelos de intervenção e aplicação no curso desenvolvimental (Seligman, 2002). Trata-se de uma proposta teórica que pretende criar métodos preventivos através do conhecimento dos fatores protetivos, aprimorar técnicas de avaliação psicológica para identificação das virtudes e dos aspectos positivos e ampliar o escopo de estudo das Ciências Sociais e Humanas. Assim, esforços não têm sido medidos para a criação e aperfeiçoamento de técnicas e instrumentos de medidas a fim de facilitar e promover o desenvolvimento dessa nova área da ciência. A principal missão, no momento, tem sido a operacionalização de instrumentos para a avaliação e a classificação das virtudes e das forças pessoais. Essa proposta surge em contraponto ao Manual de Estatística e Diagnóstico das Desordens Mentais (DSM), ao possibilitar a identificação dos aspectos saudáveis, mesmo avaliando as patologias. Certamente, o DSM-IV R (American Psychiatric Association, 2000) tem ajudado os profissionais não só a identificarem e diagnosticarem as doenças mentais como, também, a viabilizarem tratamentos para as desordens. No entanto, conforme apontam Wright e Lopez (2002), a partir da discussão do modelo da doença, há um erro comum na prática profissional dos psicólogos: o diagnóstico, o tratamento e as decisões políticas baseiam-se apenas nas deficiências apresentadas pelos pacientes/clientes, ao invés de serem consideradas as forças e as virtudes pessoais do indivíduo e seu ambiente, o que indica que o foco está nos pontos negativos, embora como profissionais da saúde, tenham o conhecimento de que as pessoas exibem uma ampla variedade de comportamentos e capacidades saudáveis; no entanto, na sua atuação cotidiana os aspectos doentes ainda são priorizados. Dessa forma, pesquisas têm sido realizadas a fim de promover a construção de instrumentos para identificação, avaliação e classificação do positivo dos indivíduos, dos grupos e instituições. A Psicologia Positiva tem como principal ambição difundir esse modelo, no mesmo nível exibido pelo da doença, indicado pelo reconhecimento do DSM. Recentemente, Peterson e Seligman (2004) desenvolveram um sistema de classificação para os aspectos positivos, enfatizando as forças e o caráter denominado Values in Action (VIA) – Classification of Strengths and Virtues Manual. Os autores afirmaram que as forças poderiam ser amplamente classificadas a partir de suas características emocionais, cognitivas, relacionais e cívicas, através de seis grupos de virtudes: sabedoria, coragem, humanidade, justiça, temperamento e transcendência. Essa classificação tem sido considerada universal, uma vez que a avaliação envolveu diferentes culturas, contextos e tempos históricos. O objetivo desse material é prover definições, medidas e intervenções para cada uma das forças de caráter, algumas já publicadas como o livro, Positive Psychology Assesment: A Handbook of Models and Measures (Lopez & Snyder, 2003). Pesquisadores e terapeutas podem utilizar esses instrumentos para desenvolverem intervenções e ajudarem as pessoas a acentuarem suas possibilidades de florescimento. A terapia positiva é outra importante contribuição do movimento. Essa modalidade de tratamento visa fortalecer os aspectos saudáveis e positivos dos indivíduos, (re)construir as virtudes e forças pessoais, e ajudar os clientes a encontrarem recursos inexplorados para mudança positiva. Seligman (1995) investigou a psicoterapia e notificou que 90% dos cli- Paludo, S. S., & Koller, S. H. (2007). Psicologia Positiva 15 entes sentem-se beneficiados com o tratamento. Destacou, ainda, que esses benefícios não são resultados de uma forma ou modelo particular de psicoterapia ou da eliminação de sintomas, mas, argumentou que uma boa terapia aumenta as forças pessoais já existentes nos clientes, ou seja, modificar somente o que está ruim ou errado é apenas uma parte do trabalho da psicoterapia, sendo preciso também reconstruir e fortalecer o que está bom. A orientação positiva da terapia reconhece que os traços positivos e os comportamentos adaptativos servem como fatores protetores contra os estressores e as dificuldades futuras. Dessa forma, ao tomar conhecimento dos aspectos positivos, as pessoas possuem melhor capacidade para lidar com eventos difíceis, tornando-se, assim, agentes ativos na superação da vulnerabilidade e do risco. Idéias semelhantes foram abordadas no início do século XX por Adler, Jung, Rogers e outros teóricos humanistas, mas foram suprimidas pela principal corrente psicológica da época que enfatizava a patologia. Atualmente, novas perspectivas teóricas e aplicadas na clínica e no aconselhamento estão em concordância com a proposta da psicoterapia da Psicologia Positiva – o foco nas virtudes e forças pessoais, as capacidades para resolução de problemas e a demonstração de competência. Pesechkian (1997) desenvolveu um sistema de terapia denominado Psicoterapia Positiva baseada na hipótese de que todas as pessoas possuem capacidades para lidar com problemas, o que facilita o reconhecimento e o fortalecimento delas. Robitschek (1998), Robitschek e Cook (1999) propuseram uma orientação que facilita a identificação dos aspectos positivos na psicoterapia, denominada Personal Growth Initiative. Essa é definida como o envolvimento ativo e intencional na modificação e no desenvolvimento como pessoa. Outros aportes teóricos e empíricos têm sido explorados para incrementar a terapia de orientação positiva como, por exemplo, a Hope Therapy (Lopez, Floyd, Ulven & Snyder, 2000). A Psicologia Positiva tem, pois, produzido muitos avanços na intervenção psicoterapêutica através da construção de instrumentos psicológicos e novas metodologias de acesso aos seres humanos (Snyder & Lopez, 2002). Os estudos enfatizam a prevenção, a identificação e o fortalecimento dos aspectos saudáveis presentes, uma vez que esses agem como fatores de proteção. Nesse sentido, as investigações oferecem técnicas e treinam os profissionais e os clientes para construirem e solidificarem as forças e as virtudes pessoais sistematicamente, numa proposta que pretende modificar o papel de passividade do terapeuta e do cliente, existente no modelo tradicional da doença, e torná-los ativos no processo terapêutico. Outra importante contribuição da Psicologia Positiva envolve a possibilidade de abordar as questões envolvidas no desenvolvimento das pessoas, reconhecendo que elas e as experiências estão inseridas em contextos sociais e culturais. Certamente, esse movimento não é o único que distingue a importância do ambiente social para o comportamento humano, no entanto, produz uma mudança na teoria psicológica ao conceitualizá-lo como um organismo integrado. Por isso, dedica-se, também, ao estudo do funcionamento de grupos e instituições, por entender que esses ambientes são significativos na vida das pessoas. Importantes contribuições têm sido feitas por Myers (2000), que descreve como as relações sociais favorecem a felicidade na vida dos indivíduos; Larson (2000) enfatiza as atividades voluntárias para o desenvolvimento das pessoas e Winner (2000) indica o efeito positivo das famílias sobre o florescimento de talentos. Além desses, outros trabalhos têm enfatizado as relações saudáveis no ambiente de trabalho (Turner, Barling & Zacharatos, 2002) que previnem os conhecidos riscos nele presentes, tais como o estresse e a depressão e, ao mesmo tempo, promovem o bem-estar psicológico e físico. De fato, o foco nos aspectos positivos do trabalho humano ainda é escasso na literatura, o que é corroborado pela própria história da investigação científica em psicologia. Psicologia Positiva: influências da literatura internacional e avanço no Brasil No Brasil, o movimento da Psicologia Positiva ainda não recebeu a devida atenção. Não são encontrados estudos científicos ou publicações nos bancos de dados. Uma busca no Index Psi-Periódicos (www.bvs-psi.org.br) aponta apenas uma referência 16 Paidéia, 2007, 17(36), 9-20 a partir do descritor: Psicologia Positiva. O artigo elaborado por Yunes (2003) introduz a discussão do fenômeno da resiliência vinculado ao movimento da Psicologia Positiva, uma vez que salienta um importante aspecto saudável e positivo do desenvolvimento humano - a superação das adversidades. O conceito de resiliência surgiu há pouco mais de vinte anos na comunidade acadêmica (Masten & Garmezy, 1985; Rutter, 1981, 1985, 1987, 1993, 1996, 1999). O primeiro manuscrito sobre resiliência no Brasil foi publicado nas coletâneas da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Psicologia (Hutz, Koller, & Bandeira, 1996). No entanto, estes autores não a relacionavam diretamente com a Psicologia Positiva. Só recentemente, foi incorporado ao movimento devido ao seu enfoque nas forças pessoais, que Yunes adotou de Masten (2001) que ofereceu uma importante contribuição ao argumentar que a resiliência é um processo normativo da adaptação, presente na espécie humana e aplicável ao desenvolvimento em ambientes favoráveis ou adversos, afirmando que todos os seres vivos possuem “capacidade” para o desenvolvimento saudável e positivo, o que antes parecia ser exclusivo de alguns indivíduos. Essa afirmação relaciona-se aos temas centrais da Psicologia Positiva. De acordo com Yunes (2003), a Psicologia no Brasil também negligenciou o fenômeno humano da resiliência, essencial para a adaptação e o desenvolvimento durante os períodos de risco, problemas, patologias e tratamento e ela ressalta que a resiliência não emerge de qualidades raras ou especiais, mas que surge de fatos cotidianos e usuais presentes na trajetória e nas relações das crianças, famílias, e comunidades. Masten (2001), também, revela uma perspectiva mais otimista e lança o desafio da compreensão dos processos que podem favorecer ou diminuir o fenômeno da resiliência. O interesse pelos fenômenos positivos e aspectos saudáveis têm aumentado nesses últimos anos, no Brasil e no mundo; e trata-se de uma mudança de olhar com relação ao humano. Essa nova lente acompanha os preceitos indicados pelo movimento da Psicologia Positiva, mas ainda são escassas as informações sobre essa mudança expressiva que ocorre na Psicologia, tendo-se uma modificação gradual dos estudos brasileiros no seu enfoque e abordagem sobre o desenvolvimento humano. Uma estratégia teórico-metodológica que tem orientado as pesquisas sobre os aspectos saudáveis das pessoas é a Abordagem Ecológica do Desenvolvimento Humano, proposta por Bronfenbrenner (1979/ 1996, 1986, 1995a, 1995b), que foi reformulada mais recentemente por Bronfenbrenner e Morris (1998) e denominado Bioecológica. Esse modelo propõe uma visão mais ampla do desenvolvimento humano através da interação de quatro núcleos inter-relacionados: o processo, a pessoa, o contexto e o tempo. Dessa forma, possibilita que a atenção investigativa seja dirigida não só para a pessoa e os ambientes imediatos nos quais se encontra, mas também para considerar suas interações e transações com os ambientes mais distantes, dos quais muitas vezes sequer participa diretamente. Neste modelo, o processo é destacado como o mecanismo responsável pelo desenvolvimento, que é visto através de interação recíproca progressivamente mais complexa de um ser humano ativo, biopsicologicamente em evolução, com as pessoas, objetos e símbolos presentes no seu ambiente imediato (Bronfenbrenner & Morris, 1998). Estas formas de interação no ambiente imediato são denominadas processos proximais. O segundo componente é a pessoa, que é analisada através de suas características determinadas biopsicologicamente e aquelas construídas na sua interação com o ambiente. O terceiro refere-se ao contexto, é analisado através da interação de quatro níveis ambientais, denominados como microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema. Finalmente, o quarto componente, o tempo, permite examinar a influência para o desenvolvimento humano de mudanças e continuidades que ocorrem ao longo do ciclo de vida (Bronfenbrenner, 1986), sendo analisado em três níveis no modelo bioecológico: microtempo, mesotempo e macrotempo. Diversas publicações brasileiras têm privilegiado a utilização e a aplicação do modelo bioecológico nos seus estudos (Koller, 2004). Por fim, a Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano e a Psicologia Positiva trazem à tona importantes implicações teóricas, empíricas e práticas que podem e devem ser incorporadas à atuação dos diferentes profissionais e às investigações. Ambas propostas possibilitam a crença no potencial Paludo, S. S., & Koller, S. H. (2007). Psicologia Positiva 17 do ser humano como um ser ativo capaz de desenvolver estratégias e habilidades para conseguir atingir o desenvolvimento saudável, permitindo um novo olhar para as antigas questões presentes na ciência. Nesse sentido, a comunidade acadêmica brasileira está despertando para acompanhar os relevantes avanços nessa área. O movimento vem favorecendo uma rápida e complexa produção científica no mundo, rompendo com os ideais epistemológicos vigentes até então. O futuro da Psicologia Positiva pretende “revolucionar” a visão de ser humano, com a construção de uma ciência que focalize os aspectos positivos e salutogênicos dos indivíduos, instituições e grupos, o que parece ser imprescíndivel, numa idéia que não é nova na Psicologia, mas nesse momento favorável ao surgimento e estabelecimento dessa área da ciência. Um elemento essencial que diferencia esse movimento das tentativas anteriores, realizadas por Rogers e Maslow, é o investimento teórico, metodológico, aplicado e empírico. Myers (2000) afirma que a Psicologia Positiva apresenta uma metodologia imbricada no inquérito sistemático e cientifico. A psicologia dos últimos 50 anos, que voltou suas energias ao estudo das patologias gerou muitos benefícios, tais como o desenvolvimento de sofisticados métodos longitudinais e experimentais, essenciais para o entendimento do funcionamento humano; transtornos foram descobertos, diagnosticados e tratados; laboratórios, instrumentos de medidas e avaliação confiáveis foram construídos; doenças consideradas incuráveis ou intratáveis foram expostas a intervenções psicológicas e psicofarmacológicas com sucesso; terapias e tratamentos clínicos foram desenvolvidos e aprimorados. Esses estudos devem continuar contribuindo para o avanço científico da Psicologia. É necessário reunir os mesmos esforços para o estudo do outro lado do funcionamento humano – o positivo. A ciência precisa também, como base na promoção da saúde, aprender como proteger e prevenir. Para esses fins, a Psicologia Positiva pretende trazer a compreensão das virtudes, forças pessoais, habilidades promovidas nos contextos de resiliência, averiguar o papel das experiências positivas, e delinear a função das relações positivas com os outros. Além disso, visa esclarecer como todos esses fatores podem contribuir para a saúde física, o bem-estar subjetivo, o funcionamento dos grupos e o florescimento das instituições. Referências American Psychiatric Association. (2000). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (Rev.). Washington DC: Author. Aspinwall, L., & Staudinger, U. (2003). A psychology of human strengths: Fundamental questions and future directions for a positive psychology. Washington, DC: American Psychology Association. 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Simone Paludo é Psicóloga, Doutoranda e Mestre em Psicologia do Desenvolvimento do Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Professora da Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Membro do Centro de Estudos Psicológicos sobre Meninos e Meninas de Rua (CEP-RUA/UFRGS). Vice-coordenadora do CEP-RUA/FURG. Sílvia Helena Koller é Psicóloga, Doutora em Educação (PUCRS), Pesquisadora do CNPq e Professora do Curso de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Coordenadora do Centro de Estudos Psicológicos sobre Meninos e Meninas de Rua (CEPRUA/UFRGS).