quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Exaustos e Correndo

“Estamos exaustos e correndo. Exaustos e correndo. Exaustos e correndo. E a má notícia é que continuaremos exaustos e correndo, porque exaustos-e-correndo virou a condição humana dessa época. E já percebemos que essa condição humana um corpo humano não aguenta.
O corpo, então, virou um atrapalho, um apêndice incômodo, um não-dá-conta que adoece, fica ansioso, deprime, entra em pânico. E assim dopamos esse corpo falho que se contorce ao ser submetido a uma velocidade não humana. Viramos exaustos-e-correndo-e-dopados. Porque só dopados para continuarmos exaustos-e-correndo.”
(Eliane Brum)






Benivaldo do Nascimento Junior

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Vamos conversar sobre as Psicologias Gourmet

Dia da Psicóloga(o): vamos conversar sobre as Psicologias Gourmet

ESQUIZOGRAFIAS·DOMINGO, 26 DE AGOSTO DE 2018·READING TIME: 11 MINUTES

(bricolagens de esquizografias nossas sobre as Psicologias Gourmet)

Copiado e bricolado de: 

Hashtag, Hashtag #PsicologiadoAmor... 


Do que adianta #PsicologiadoAmor se não há implicação ético-política?

A Psicologia como uma ciência e profissão recente diante de tantas outras, tendo processos complexos na sua constituição no cenário de práticas nos espaços onde se insere. 

Como toda prática é passível de ser capturada, a Psicologia se vê recortada por vetores do mercado, da moral, de pensamentos de retrocesso, de microfascismos. 

Sim, isso é possível. 

A lembrar do papel da Psicologia na Ditadura Militar, a forma como os saberes Psi reforçaram racismo, machismo, xenofobia, os manicômios, etc. em nome de bons costumes e da tradicional família.

Dentro das matrizes psicológicas do pensamento, há uma inclinação para disputas epistemológicas sobre a Verdade, sobre o melhor posto de conhecimento sobre a Psicologia. Microguerrilhas teóricas e práticas que visam eleger A MELHOR ABORDAGEM/LINHA TEÓRICA. 

Enquanto explodem disputas egóico-epistêmicas que buscam só afirmar pedestais em disputas torpes, há um compromisso social e ético da Psicologia que se esvai. Enquanto a disputa for pela MELHOR ABORDAGEM/ LINHA TEÓRICA e não pelas práticas de produção de cuidado com implicação ético-políticas, COM UMA CRÍTICA SEVERA AOS MÉTODOS E PROCEDIMENTOS, AVALIANDO SISTEMATICAMENTE OS DISCURSOS, AS RELAÇÕES DE PODER ESTABELECIDAS, seremos uma profissão estagnada que ainda vê seu campo de saber-fazer buscando consolidação em meio a processos muito mais complexos do que aqueles pelos quais as/os psicólogas/os disputam.

Devemos nos perguntar: Para quem serve o nosso saber-poder? Temos resistido às nossas amarras egóicas do suposto-saber? E nosso saber, serve para anestesiar a potência micropolítica dos corpos ou para controlá-la, subjugá-la à sua verdade, com a melhor das IN-TENSÕES? Para-que-serve-o-nosso-saber?


Questionamentos muito caros, um pouco raros, sobretudo no contexto da biopolítica contemporânea que vivemos. Onde viver denota um sobreviver, uma sub-vida que se repete em massa como forma maior dos interesses do enfraquecimento da potência dos corpos. . .


Vemos sim uma Psicologia caminhando nas ondas dos saberes hegemônicos, reproduzindo direta ou indiretamente opressão, desrespeito, rotulação em nome de uma práxis com jaleco e salto alto, com linguagem impecavelmente polida e pouco encontro, pouca troca, pouca interferência social!
A redução das discussões psi a consciente x inconsciente, comportamento x mente, édipo x anti-édipo, corpo x mente, social x individual além de reducionista nos faz reproduzir pieguismos doutrinários impotentes. 

Quem supera os calourismos psi, sabe que há em qualquer abordagem/linha teórica profissionais competentes e incompetentes, práticas potentes e reducionistas. Sim, há um romantismo no discurso psi nas figuras de linguagens comuns como "acolhimento" "psicologia do Amor", "ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana", "revelações aconteceram após a intervenção" clichês esgotados que não dão conta da implicação ético-política das práticas psi. Ético-Políticas que por vezes sequer são compreendidas num universo povoado pelo senso comum que acha que Ética é aquilo que tem no código de Ética e que Política não é assunto de psicóloga/o. 

Enquanto isso, cenários de exclusão, violência continuam acontecer debaixo dos nossos olhos, respaldadas por práticas constituídas fora do campo social.  É sim, exclusão, opressão acontecendo por meio de NOSSAS INTERVENÇÕES! 

O romantismo da PsicologiadoAmor impede a criticidade de perceber como as práticas psi podem produzir ou reproduzir mecanismos de dominação e exclusão e microviolências subjetivas e sociais, instituídos  e institucionalizados dentro da sociedade na figura da família, do psicólogo, da escola, e dos serviços de saúde, protegidos pela maquiagem de procedimentos psi com o rótulo de paz e amor.

Cabe questionar quais as implicações de determinadas intervenções na escuta, nos diagnósticos, nos métodos e nas atitudes professorais e pastorais que aparecem em várias psicoterapias. 

Sim, é preciso acordar! 

Não há Psicologia que esteja livre da possibilidade de, mesmo com toda boa intenção, rotular e enquadrar em seus diagnósticos, oprimir e normatizar nas intervenções clínicas, reproduzir processos de vulnerabilização, reforçar violências (ativamente ou coniventemente) nas políticas públicas, etc.

É preciso descer de pedestais, desromantizar a discussão das hashtags e afinar nosso compromisso ético-político. Senão seremos reprodutores de lógicas hegemônicas e violentas, crendo que nossa máscara Patch Adams salvará a Psicologia, repleta de reducionismos e reducionistas.

Certa feita li um texto bem bacana com o título "meu psicólogo disse que racismo não existe" e fiquei impressionado. Como pode? Depois de algumas reflexões, isso tem feito muito sentido. 

A Psicologia tem dificuldade de elencar/acolher/considerar aspectos sociais, políticos, econômicos, de gênero enquanto categorias de análise-intervenção de produção de subjetividade e, por consequência, de produção de sofrimento psíquico.

Quando considerados, são sub-categorizados como elementos secundários ou terciários diante do que importa para a Psicologia: um suposto sujeito psicológico, intrapsíquico, interiorizado, na busca das "substâncias psicológicas" (com todo perdão à expressão anedótica), ou ainda pior metapsicológicas.

A(o) psicóloga(o) opera sua escuta como garimpeira ou como um arqueóloga, procurando seus focos-teórico-analíticos aprioristicamente definidos: pensamento disfuncional, complexo, sintoma,  relações do amor, incongruência, má-fé, transfer, sombra, édipo, ordens, traços, comportamentos, como quem procura ouro ou um fóssil, descartando as poeiras e pedras que julga não ter preciosidade alguma porque não se encaixa no que está pré-parado.

A complexidade da multiplicidade da realidade ou realteridade, fica a cargo desses conceitos, como um "essas coisas até podem existir", mas só são tomadas enquanto categoria de análise se/quando virarem "coisas psicológicas" ao rigor desse sotaque psi ultrapassado. 

Numa dissecação neocartesiana a construção de um tal sujeito psico-lógico como condição sine qua non para sua ação, opera um recorte, uma desconexão. Não sei se por incompetência teórico-metodológico, por imaturidade ou por puro egocentrismo epistêmico. "Isso aqui não me cabe - vai conversar com o cientista social, com a assistente social."

Assim, as discussões sobre caixinhas, rótulos e práticas reducionistas viram meras repetições de um hino/oração que nos obriga a cantar/repetir sem nem entender/praticar a letra. E assim vamos reproduzindo psicologias gourmet com suas dietas mentais, seus detox comportamentais, suas ordens amorosas,  sem se questionar a implicação ético-política, histórico e social de nossa profissão.

E há toda uma comoção de menino ferido travestida de criticidade por parte dos profissionais da Psicologia ao falar “a sociedade não entende o que a Psicologia faz ou tem preconceito da(o) psicóloga(o)”. Se eu achasse que psicólogo é apenas o cara que se senta e busca apenas coisas psis a partir de suas lentes epistemológicas, eu também teria preconceito (risos).

Para além de uma necessidade precisar ampliar sua compreensão sobre a atuação das(os) Psis, a Psicologia em si precisa ampliar seu escopo, por vezes desfazendo práticas gourmetizadas que só reforça determinados processos e só empobrecem a profissão e sua capacidade de produzir transformações subjetivas (nos níveis singulares e plurais, “individuais” e coletivas, como processos indissociáveis) até porque Psicologia sem interferências sociais é apenas indústria de produção de cyborgs de acolher coisas-psi.

É delicado ver como o processo de gourmetização das psicologias segue o baile da lógica neoliberalista. 

Uma redução da potência psi a processos corporativistas, aos partidarismos epistêmicos ou a processos que centram a práxis psi numa perspectiva de substancialização dos múltiplos objetos de estudo da Psicologia numa coisa-psi intrapsíquica que faz aprisionar uma gama ampla de processos complexos numa quididade recortada à luz de uma pretensa "identidade profissional". 

Dicotomizações entre individual x social de uma paupérrima maturidade epistêmica, fazem do individual a única esfera pertencente ao universo psi com suas coisinhas psicologizadas enquanto apropriação específica irredutível (mente, comportamento, afetos, pensamento, etc), até porque em muitos muitos casos o grupo (enquanto categoria de análise-intervenção) nada mais é do que uma soma de individualidades ou de sistemas familiares. 

O social vira, em muitos casos, um terreno movediço relegado a um estrangeirismo percorrido apenas por outras ciências, ou habitada pela Psicologia enquanto agremiações encaixotadas em especialismos esquartejantes. "Isso é coisa da Psicologia Social", "Já isso é do pessoal da Psicologia Organizacional, meu negócio é atender", etc.

Desconsiderar enquanto categoria de análise-intervenção os processos que fogem às cercas-psicologizadas das coisas-psi só produz reducionismos de uma profissão. 

Questionar-Tensionar acerca da implicação ético-política nunca é mero debate teórico que se esvazia numa problematização inócua. Sim, isso é um processo que transversaliza a formação das(os) psis, os sistemas conselho e num nível mais particular, um processo autocrítico da práxis psicológica a partir de questionamentos basilares.

O escudo argumentativo da neutralidade científica esconde, ora uma fragilidade técnico-assistencial, teórica e política, ora uma conivência com a manutenção do status quo de processos amplos de dominação e da Psicologia como profissão da tradicional família burguesa. 

Um certo afã pela imaginária (e irreal) postura a-política da Psicologia faz reverberar, por meio de seu silenciamento, a necessidade de ter o questionamento "qual a implicação ético-política da Psicologia?" como um norte sempre a nos guiar em nossa disposição à potência de transformação e na nossa des-posição ao poder de manutenção do status quo. 


Se afunda em seu próprio marketing

Dia desses tirei um tempo para acessar perfis profissionais de psicólogas(os) em redes sociais como Instagram, Facebook e Youtube. Comecei a perceber a maneira que a Psicologia é repassada nesses meios de comunicação para além da dureza normativa dos códigos de ética, pensei nas implicações do marketing da Psicologia.

Que tipo de Psicologia é passada nesses meios de comunicação? 

A tentativa de retirar a Psicologia de um pedestal e torná-la mais palatável por vezes é capturada por gourmetização que transforma a Psicologia num arsenal de frases prontas que pouco ou nada se diferencia da AUTOAJUDA.

Em alguns dos canais, o foco nos aspectos sintomatológicos como uma isca-marketing para conseguir novos clientes (no sentido mais econômico e menos rogeriano da palavra); “Veja esses sintomas, se você se identificar com a maioria você pode estar com depressão.#façapsicoterapia”.

É tênue o limiar entre a propaganda que aproxima a psicologia do mundo virtual e a banalização das técnicas psi ademais, há um recorte da psicologia a partir da esfera da clínica tradicional, visto que a resposta para os “problemas” colocados é #façaterapia

Pensando nos atravessamentos econômicos e sociais do sofrimento enquanto categoria biopolítica e não meramente como acessório intrapsíquico inscrito numa região acessível apenas ao psicólogo via terapia. “Propaganda é a alma do negócio”, mas quando a Psicologia vira mero negócio se perde o aspecto ético-político com a sociedade em nome de mais likes, mais compartilhamentos, mais clientes.

Diante da banalização da esfera psi e seus atravessamentos diversos, por vezes silenciados, me pergunto o que diferencia a psicologia autoajuda das redes sociais e um coach ou um youtuber que faz um vídeo copiando sintomas do google e no final fala “procure um psicólogo”.

Mais importante do que as pessoas irem ao Psicólogo é a Psicologia ir às pessoas, SEMPRE se questionando como a Psicologia chega nas pessoas.

Porque não é suficiente dizer por um lado “Psicologia não é coisa de louco” sem se questionar que tipo de narrativas se produz sobre a Loucura, nem tampouco interferir na indústria da loucura, na psicopatologização da sociedade.

De que adianta dizer “PSICOLOGIA NÃO É COISA DE LOUCO” e ser conivente ou ser mais um vetor da medicalização e psicologização da sociedade, buscando encarar fatos complexos por uma via da saúde mental ora nosológica ora por categorias individualizantes e mercadológicas como a famigerada RESILIÊNCIA ou ainda pior #PsicologiadoAmor.

Mais importante do que investir na PROPAGANDA é investir na implicação ético-política da Psicologia com a sociedade.

Neutralidade: Toda Psicologia Gourmet se crê como Neutra

Não acredito numa Psicologia que não se posiciona diante de um projeto político que desrespeita a democracia, que imprime nítidas ações de retrocesso na saúde, na educação, nos direitos humanos, na previdência social. Colocar citação do código de ética de maneira descontextualizada, reduzindo a situação política atual a um plano puramente partidário é de uma ignorância política preocupante. Se é para citar o Código de Ética da Psicóloga(o), então: “O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.” 

Qual a responsabilidade social das(os) profissionais que veem direitos sendo desrespeitados e se negam a se posicionar em nome de uma dita neutralidade, uma independência.

Acredito numa Psicologia de implicação política, que tem compromisso social e interfere diante das questões que afetam a sociedade e produzem sofrimento, segregação, violência e morte de maneira velada ou direta. 

Afinal, dissociar elementos sociais, econômicos, políticos, culturais da produção dos processos de saúde e de sofrimento é uma das questões mais ultrapassadas (no entanto, ainda muito comuns). Na Contemporaneidade, me é difícil crer numa Psicologia que se volta apenas para elementos individualizantes, intrapsíquicos de um questionável “sujeito psicológico” e negligencia todos os outros vetores que atravessam a produção de subjetividades. Quando o plano político passa a interferir na qualidade da educação, da saúde, dos direitos humanos deixa de ser um território meramente partidário e passa a ser um compromisso com a cidadania, com a sociedade. E se esconder atrás de uma neutralidade (que não passa de um mito) é subterfúgio para endossar discurso de opressor. Não há neutralidade, quando você se furta de posicionar já está do lado do poder dominante!

As psicologias dóceis e a medicalização da vida


Paira erroneamente no imaginário das(os) psicólogas(os) a ideia de que existe uma Psicologia neutra, que trata apenas dos fatos psi.

Desconsiderando de forma incipiente que:
a) os fatos psi não existem por si, ou seja, não há subjetividade intrapsíquica dissociada de fatores sociais, culturais, econômicos, étnicorraciais, de gênero e sexualidade. Sendo o que se chama subjetividade algo que nunca cessa de se transmutar, tendo esses vetores supracitados como produtores de processos de mutação.
b) é simplesmente impossível ter uma postura neutra diante do cuidado com esses fenômenos, processos psicossociais.
Assim, há que se pensar no posicionamento político que a Psicologia vem tendo em suas práticas. A lembrar que a história da Psicologia tem marcas de um passado (e de um presente) muito atrelado às capturas dos setores majoritários, reforçando práticas de tortura na ditadura, sendo conivente com racismo, machismo, lgbtfobia e o genocídio de pessoas em manicômios bem como a manutenção do status quo da tradicional família burguesa.

E quando se fala em política, evidentemente não se trata da política partidária. Todo ato é político. Dessa forma, existem atos (inclusive os atos de permanecer indiferente) que reforçam processos de opressão, violência, desrespeito ou, por outro lado, lutam contra eles.

Historicamente as Psicologias tem focado seu campo de ação em esferas reduzidas e derivadas, como a clínica ~individual~, as terapias familiares. Tendo como foco um "problema" já constituído. Problema este que muito geralmente ganha o NOME de Transtorno Mental. Já nos é sabido que o ato de decalcar um processo multifatorial na ordem de um desequilíbrio químico e, por meio de uma concatenação de signos sintomatológicos, é transformado numa: ~doença~.

Assim, o psiquismo se transforma em cérebro e o sofrimento se resume a uma oscilação de dopamina, serotonina, etc. Essa análise simplista é como fotografar em preto e branco um processo que se movimenta e se retroalimenta por diversas mãos, cores, processos.

Reduzir elementos de produção de subjetivação com suas interferências sociais, políticas, econômicas, étnicorraciais, de sexualidade é uma forma interesseira e interessada de operar com a vida tornada um poço de niilismo.

Há, de forma politicamente inscrita e posta, uma ilusão de NORMALIDADE que por parâmetros diferentes define o que deve ser considerado NORMAL (e logo saudável) e o que deve ser considerado ANORMAL (logo doente).

E assim, essa lógica embriagada por uma UNIVERSALIDADE risível vem produzindo cada vez mais pessoas fora da CURVA, DA BORDA, DO ENTORNO, DA FÔRMA.

Os trans-bordos da existência, os trans-en-tornos mentais.

Da forma mais rudimentar que o pareça, às vezes a Psicologia se situa como um tapa buracos que ela mesma colabora em criar (por suas atitudes ou pela falta delas). Na definição de um transtorno, há uma produção de (des)lugares enorme. Então o psicólogo se tornou (nas palavras de Estamira) um copiador, um copia-dor! Que vive de fazer cópia de um modelo tido como universal, que desconsidera a pluralidade da subjetividade em nome da norma. Ficando preso a ~resolver, ajustar, renormatizar o que já perdeu~.

No entanto, a Psicologia se mostra um animalzinho dócil diante dos processos de produção de sofrimento. Cruza seus braços diante da política, cala-se diante das máquinas capitalísticas (e por sua vez machistas, racistas, microfascistas). Protegidos pelo escudo da ~neutralidade~ e empenhados em concentrar suas forças numa briguinha epistemológica que alcança tudo, menos as vidas.

Assim, há que se pensar no compromisso social da Psicologia enquanto saber que se articula com a sociedade, pensar nos processos que permeiam a medicalização, a psicopatologização e a medicamentalização, das quais a Psicologia tem se tornado não só bem aprisionada como também produtora de processos de psicologização.

Muito mais importante do que CORRIGIR o que DISSERAM que É uma doença são as formas de resistir ao que produz processos de sofrimento, violação e opressão!

Não precisamos mais de pedestais e caras-de-paisagem, enquanto tem pessoas sendo violentadas (física e emocionalmente), enquanto não existe justiça social, enquanto a desigualdade grita, enquanto a precarização do trabalho se apresentar como um processo multidimensional de institucionalização da instabilidade, enquanto há microfascismos por todos os lados.

Antes de qualquer coisa, nós psicólogas(os), precisamos nos perguntar: a serviço de quem direciono a minha atuação?




Benivaldo do Nascimento Junior

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Percepção - Hyppolite

Assim, nossa percepção exterior é um sonho de dentro que se encontra em harmonia com as coisas de fora; e, ao invés de dizer que alucinação é uma percepção exterior falsa, é preciso dizer que a percepção é uma alucinação verdadeira (p. 13)54 

TAINE, Hyppolite. (1870) De l’intelligence. Tome Premier. Paris, Librarie Hachette, 1892a. Disponível em www.gallica.bnf.fr
Aqui estou antes de lançar minha 'Causa Freudiana'; sou freudiano; por isso, creio ser bem-vindo lhes dizer algumas palavras sobre o debate que mantenho com Freud há algum tempo; vou lhes resumir
isso. 

[...] Pois bem, meus três não são os de vocês. Meus três são o real, o simbólico e o imaginário. Situei-os numa topologia – a do nó dito borromeano, o qual coloca em evidência a função do ao-menos-três:
aquele um ata os outros desatados. Dei isso aos meus; dei-lhes para que o reencontrem na prática – mas será que o reencontrarão melhor do que na tópica legada por Freud aos seus? 

[...]É preciso dizê-lo: o que Freud esboçou com sua tópica (dita segunda) é muito desajeitado; imagino que era para se fazer entender, dados os limites de seu tempo; mas, de preferência, não podemos nos
aproveitar do que lá é representado, aproximando-o de meu nó?

Lacan, J. Seminário de Caracas, 1980